segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Ilha de Araguaia

Eu não vi aquela enorme labareda amarela que circulava o resto de terra de que ainda brotava uma ramo de galho retorcido. Eu não precisei ver. Eu não vi aqueles pássaros azuis com detalhes amarelos, como se fossem pintados a mão, todos pousados no chão em chamas com cara de porque. Eu não vi as raposas fugindo do fogo que tomou a toca e a vontade de manter a calda erguida. Não vi emas desesperadas saltando entre os galhos queimados, nem alces sem saber para onde ir. Não vi uns poucos homens lutando contra um inimigo que parecia lhes engolir. Não vi as estradas que cortam a mata e como se não bastasse dilaceram esta ferida a seu redor. Nunca vi o boi seguindo o fogo, o fogo seguindo o boi, fogo, boi, pássaros, alces, homens, emas, raposas, nunca vi. Não vi senão ainda aquele por do sol que pintou uma aquarela atrás do fogo e da mata queimada.

Não têm olhos estes homens de bois, não têm coração. Um dia o sol se porá a eles e nunca renascerá e não haverá inferno mais quente que o fogo que puseram para queimar seus próprios miolos.