sábado, 18 de dezembro de 2010

Eu quero tantas coisas

Eu queria tantas coisas
Queria não querer nenhuma delas, acima de tudo
Quanto menos se quer,
Mais próximo se está da felicidade

Acho que foi o Fernando Pessoa que me disse isto
Ele disse isto a mim, e eu queria ser como ele
Ficar na história e dizer coisas às pessoas
Coisas que ninguém disse, ou como ninguém disse

Queria ser importante
Eu sei que este é o querer mais perigoso
É o que mais tem me feito sofrer
É o que eu mais quero não querer

As pessoas não me conhecem
eu quero e não quero que seja assim
Eu tenho muitos medos
Eu queria não tê-los

Às vezes eu não queria ser como eu sou
O que é uma tolice, pois se só eu me entendo
Eu me amo, eu confio em mim e eu me apóio
Desde que os "eus" não sejam só eu mesmo

Eu queria ser mais claro e conciso
Queria ser mais eu, ou eu na maior parte do tempo
Mas eu não pareço tão legal na intensidade em que eu me mostro
E não me mostro mais, porque eu não quero

Eu quero ser feliz, nada além disso
Todos os outros quereres são desvios
que a minha mente inexperiente
inventa para eu querer

Cego

Enquanto eu ouço Stevie Wonder, eu me lembro da minha mãe me contando sobre a sua avó, que também era cega. Ela me conta que a velhinha passava as mãos sobre seu rosto e dizia que ela era bonita.
Que beleza as mãos enxergam?
Nariz, boca, olhos, cabelo. Todos os humanos tem, nos mesmos lugares.
De que beleza falava aquela velhinha?
Imagino, então, o pobre Stevie pedindo a sua esposa que descrevesse o rosto de sua filha, minunciosamente. Sorria, provavelmente, ao ter diante de si qualquer tipo de sensação que só sua filha o trouxesse. Isto lhe parecia bonito. Era o que podia alcançar, o que podia sentir. Quando "via" sua filha pelas palavras da esposa, pelos rostos que nunca vira, pelo amor que tinha por aquela criatura, estava diante da beleza.
Nós temos uma apego especial pelos nossos olhos que jamais nos imaginaríamos sem eles. Parece perder a vida.
Quando encaro a minha iminência de ficar cego, penso em como eu perderia a minha liberdade, sem notar o quanto já estou preso a ela. Na verdade, pensando na minha bisavó e no Stevie, eu ganharia uma vida nova, com novas dificuldades e uma superação ainda maior.
As dificuldades me parecem incrivelmente amigáveis quando eu penso no ser humano mesquinho que eu seria sem elas. Vejo gente por aí com tantas certezas que me dá pena.
Tudo o que parece me limitar, tem me amadurecido. Tudo o que eu não tenho, me mostra o que realmente importa para eu construir minha felicidade.
Vou chorar ainda muitas noites por não poder fazer isto ou aquilo do jeito convencional, mas também vou me divertir ao inventar o meu próprio jeito.

domingo, 21 de novembro de 2010

Eu sonhei com um cômodo prata e cinza com corredores onde as pessoas dormiam de cabeça para baixo em grandes bolhas. Pareciam projetos de gente, todos iguais dos pés a cabeça, da cabeça aos pés. Pensei que o lugar poderia ser vermelho, mas era cinza, e as pessoas dormiam esticadas e flutuando. Pensei que poderiam encolher-se. Pensei tanta coisa a respeito delas que cheguei a me perguntar no que pensavam, e no meu sonho, com o que sonhavam. Eram todas igualmente apáticas e adultas. Como mortas. Acordado, eu admito a possibilidade de estarem mortas, mas no sonho era tudo tão frio e cinza que elas não podiam estar mortas. Seria demais para mim.
As pessoas foram perdendo o tom, se espalhando por aquelas bolhas até que eu acordei.

Face that

Se eu me descascar
Se eu me virar do avesso
Se você vir em mim
O canto mais sincero das vísceras

Se eu me desembrulhar
Se eu me despir de tudo
Se eu ficar além de nú
Se eu nascer aqui

Se você me olhar
E me ver mais que eu
E me ver mais que você
Que o mais claro dos sóis

Se eu mudar
Se eu decidir
Se eu andar
Se eu voar

Você me vê
Você tem coragem
Você tem coração
ou não?

sábado, 20 de novembro de 2010

Teddy baixo astral: Ep. 3


Oi, Teddy, no que está pensando agora?
- Estou pensando na vida das moscas.
É uma vida muito curta, não é mesmo?
- Acho que sim, mas a mosca também é curta, o sentido da vida dela também é curto.
Qual é o sentido da vida das moscas Teddy?
- Rodear um monte de cocô.
Aposto que as moscas fazem muito mais que isto.
- Sim, elas zumbem no meu ouvido de noite, como se eu fosse o monte de cocô.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Teddy baixo astral: Ep. 2

Oi, Teddy, em que está pensando agora?
- No tênis que eu vi na propaganda da TV.
Você quer um daquele?
- Sim, quero muito. É o que eu mais quero na vida.
Por quê quer tanto este tênis assim?
- Porque ele tem luzes que piscam quando agente anda.
E para que servem estas luzes?
- Para piscar, ora...
Mas o tênis não existe para proteger os pés?
- Não. Para proteger os pés existem os calçados, os tênis que piscam existem para piscar.

domingo, 14 de novembro de 2010

O limpador de sepulturas (Parte 1)

Depois de reunidos todos os instrumentos necessários, partira ao ofício de manter limpos todos os sepulcros que guardavam os restos mortais de alguns homens, muitos dos quais pouco conhecia. Não era uma função qualquer. As famílias vinham ali derramar suas saudades uma vez ao ano e deviam ter uma boa impressão de sua mais provável futura casa.
Senhor Plácido subia com algum custo o íngreme caminho que o levava ao início de sua tarefa, não pelo peso do carrinho com os produtos de limpeza e as vassouras, mas pela carga da vida que trazia sobre as costa. Mas o "custo" com que subia era só aparente, apresentava uma disposição de criança para o trabalho desde que escolhia a carga da morte.
O primeiro túmulo era ostensivo, levava em letras douradas o nome da família que jazia ali. O sol refletia seus raios nos olhos cansados do Sr. Plácido, que não por isto deixou de lembrar-se que sequer podia pronunciar aquele nome tão cheio de consoantes. Devia haver ali uma família que passou bem.
As datas em frente as cruzes abaixo das fotos mostravam que Sr. Plácido era um menino que brinca curioso entre as velharias de seus avós. Fisionomias sérias, de pessoas que se julgavam importantes com penteados que pareciam antiquados até para o Sr. Plácido.
A primeira a morrer devia a ser a matriarca da família. Tinha o rosto repleto de rugas e, exceto pelos olhos, era como se o Sr. Plácido olhasse para um espelho, quando vestia um horrível vestido de renda que a idade da foto não revelava a cor. Pensou que aquela mulher deveria ter sofrido, a ponto de que seus filhos não pudessem encontrar uma foto em que estivesse mais simpática. Não era obrigado que sorrisse, já que evidentemente não possuía dentes e deixaria ali uma visão um tanto cômica aos descendentes, mas alguma alegria lhe faltava. Sr. Placido, que provavelmente seria jogado numa vala comum após a sua morte, pensava consigo que tinha tantas alegrias para mostrar que talvez não coubessem numa foto. Mas nem todo mundo tinha a sua sorte. Nunca vestiu um vestido de renda, e nem uma meia, que não quisesse, e aos quarenta anos, quando a vida não lhe poupou nenhum dente, um vereador lhe deu uma dentadura ajustada em troca em troca do voto.
A moça que vinha abaixo da foto desta senhora parecia assustar-se com tecnologias, ou pelo menos foi isto que as suas espessas sobrancelhas revelavam. Olhou à câmara fotográfica com uma expressão hilária, talvez por saber o resultado da fotografia. Deus nos perdoe, mas àquela mulher talvez sobrasse alegria, mas lhe faltavam algumas outras coisas. No entanto, pelo sobrenome, conseguiu casar-se. Pode ter sido uma mulher boa, boa mãe, ou o marido teve a oportunidade de conhecer o jazigo da família, mas esta hipótese é muito maldosa para passar pela cabeça do Sr. Plácido.

Teddy baixo astral: Ep. 1


















Oi, Teddy, no que está pensando agora?
- Eu ouvi de novo aquela música que tocava quando em nem tinha nascido...
E você se lembra ainda?
- Não.
E como pode saber que ela tocou, Teddy?
- Eu não sei, na verdade.
Você me deixa confuso assim...
- Na verdade, eu te desconfundo. Você que quer saber demais!
... cante, então, a música para mim.
- ...
Teddy, eu pedi para cantá-la...
- Ora, não pode ouvir? Parece até que não viveu antes de nascer!
Claro que vivi, Teddy, mas o que isso tem a ver com ouvir a tal música?
- É que se vive ainda, é porque ouviu a melodia até o fim, mas agora é surdo a ela.

sábado, 23 de outubro de 2010

Propagandas Nissan e Toyota

Eu não sei se aquela propaganda em que tem um guarda da realeza inglesa e uma comparação com o Jaguar é da Nissan, mas de qualquer maneira esta empresa tem feito ótimas propagandas. Mas eu não consegui achar essa!





O da Toyota, no mesmo estilo:






sábado, 16 de outubro de 2010

Um homem se atirou do edifício.
Uma mulher tentou impedir a ação, não conseguiu e ligou para outro homem.
Este homem chegou e juntou os pedaços vermelhos do homem no saco preto que foi enviado para outro homem analisar. Não chegou a nenhuma conclusão reveladora, mas deu seu parecer aos homens e mulheres afoitos.
No cerimonial, homens e mulheres choravam sobre a caixeta de madeira que era colocada numa gaveta de concreto, de onde não seria mais tirado.

Somos essencialmente vazios de sentido.

Sono, cadê?

A madrugada me mantém acordado. Isto não pode ser um bom sinal. Seria se eu me divertisse, risse como um louco e bebesse com gente que eu nem conheço. Não, estou simplesmente acordado. Devia estar dormindo, sonhando com uma cama em que eu dormia e sonhava com uma cama...
Não funcionou. Permaneço sem sinais de sono, sem sinais de qualquer coisa que justifique a minha insônia.
Travesseiro duro, cobertor quente demais, tempo frio demais, lençol áspero, claridade na persiana, ruídos na vizinhança, falta de ar, raiva.
Sono, nada.

Resisto

Vivendo com este orgulho de resistir
Esta é a minha bandeira
Erguida em frente ao que eu quis
Erguida em frente ao que eu sou
Eu resisto
Eu insisto
Eu resisto e insisto mais que vivo
Não sei bem se eu respiro
se falo, faço, fico
Tenho resistido a tudo
Tenho me livrado de todos os males
Tenho me apoiado nesta resistência
Que não tem apoio
Que não se justifica
Que não nasceu comigo
Para que eu a tenha tão próxima
Para que eu a veja tão fundamental
Eu resisto a mim, ao mundo
Sou um herói
Cuja própria resistência
é o seu calcanhar.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Ilha de Araguaia

Eu não vi aquela enorme labareda amarela que circulava o resto de terra de que ainda brotava uma ramo de galho retorcido. Eu não precisei ver. Eu não vi aqueles pássaros azuis com detalhes amarelos, como se fossem pintados a mão, todos pousados no chão em chamas com cara de porque. Eu não vi as raposas fugindo do fogo que tomou a toca e a vontade de manter a calda erguida. Não vi emas desesperadas saltando entre os galhos queimados, nem alces sem saber para onde ir. Não vi uns poucos homens lutando contra um inimigo que parecia lhes engolir. Não vi as estradas que cortam a mata e como se não bastasse dilaceram esta ferida a seu redor. Nunca vi o boi seguindo o fogo, o fogo seguindo o boi, fogo, boi, pássaros, alces, homens, emas, raposas, nunca vi. Não vi senão ainda aquele por do sol que pintou uma aquarela atrás do fogo e da mata queimada.

Não têm olhos estes homens de bois, não têm coração. Um dia o sol se porá a eles e nunca renascerá e não haverá inferno mais quente que o fogo que puseram para queimar seus próprios miolos.


sábado, 10 de julho de 2010

Não é santo

Há santo que acorda às 4?
Que num gole engole o café fraco?
Que veste o sapato surrado?
calçando o chão no solado?
Que de tantos donos furou?

Há santo que não chora
Pelo não comer diário?
Pelos farelos no armário?
Pelo apelo de sua senhora?
Pela sua súbita compreensão?

Há santo que ouve sempre o mesmo som
Das pancadas da marreta no concreto?
Das estruturas erguendo-se no chão?
Das máquinas e seu estranho dialeto
Que com que faz milagres ao céu?

Há santo que não se aguentando
Abre um cubo de carne fria?
Carne dura e sem categoria
Que de tão disforme não se sabia
Se era do porco ou se era sua

Há santo que trabalha quinze horas
E enxagua a mão na sujeira?
Ajeita no saco suas tranqueiras?
Veste o colorido cinza de ir embora?
Calça o chão e toma o ônibus?

Há santo que berra ao motorista
Ao cobrador, ao que tiver em vista
Uma saudação ininteligível?
Tão sincera como um latido?
Tão sonora quanto um estampido?

Há santo que corre para o bar
Para ali deixar uma porção da sua miséria?
Na intenção de poupar da sua familia
os insultos dos cães de sua matilha
Que lhe abocanharam a dignidade?

Há santo que vê uma mulher bonita
E não tarda a correr em sua procura
Escondendo tudo de sua mulher
Que já não aparenta formosura?
Mas que sempre incita respeito?

Há santo que diante da mais cara jóia
que lhe ofusca a nitidez da visão
Milagrosamente a transforma em comida?
Sem recursos se transforma em vilão?
E tem de achar um jeito de tocar a vida?

Há santo que ainda cansado pode ouvir
O ronco vazio dos estômagos famintos
Que dormem para silenciar os instintos?
E sincronizar com os roncos do pai?
Este ronca por não saber onde vai

Há homens santos
há santos homens?

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Ah, essa sua risada
que me faz chacoalhar a cabeça
e censurar meus pensamentos
Estes seus dentes úmidos
que se põem ao tapa
da luz que lhes incide
e que refletem sem pudor
Tranca na boca toda explicação
Daquilo que foi meio dito
E que por isso
Tão cedo não será esquecido
A sua voz carrega a audácia
As injúrias que eu quis ouvir
Não sei se a voz, ou a risada
Não sei se as injúrias
Não sei se por de fato
Não ter sido feito
Sem que faltasse um pedaço
Sem que carecesse do fim
Que me fora incumbido de pôr
É assim, você fala e ri
E me olha nos olhos
Exigindo um traço de resposta
Eu, sem jeito, me esquivo
do mal que já me dominou

Luz do sol


Muita gente fez música sobre a ação do homem na natureza, mas ninguém foi tão longe quanto Caetano Veloso!

domingo, 6 de junho de 2010

De um destes filmes água-com-açúcar que eu paro para assistir, sem nem saber o nome:

"De tudo que o amor pode ser, ele nunca será incerto"

Preciso e simples, uma definição de amor quase sem amor.

Fim no mundo

Você sabe... o mundo?
Então, ele é lindo, não é?
Não é fantástico como tudo existe?
E dizem que se acabará
Mas o mundo,
O mundo não diz nada...
As pessoas ouvem,
Mas o que as pessoas ouvem?
Por quê elas se perguntam?
Para que perguntas?
Por quê esperar por respostas?
As respostas vem pôr um fim
Um fim na dúvida
Um fim na expectativa
Um fim na contemplação
Um fim no deslumbramento
Um fim no mundo.

A insustentável leveza do ser

Um livro clássico de auto teor filosófico que terminei de ler e recomendo...

A leitura é muitas vezes enfadonha, mas muito construtiva. Levanta divesrsas questões sobre as quais eu nunca havia pensado e acaba dando uma nova dimensão para enxergar a vida.

Gostei do modo como o autor discute o acaso, as escolhas pessoais e as suas consequências e os laços de relacionamento criados entre os seres vivos, em especial a compaixão.

O final do livro, quando são narrados os últimos dias de Karênin, me tocou em especial, pois recentemente ganhei uma cachorra que tem ganhado a atenção de todos aqui em casa. Em resumo, o autor discute a frase bíblica que diz que o homem deve reinar sobre os outros seres vivos e a opinião de alguns filósofos a respeito disso. Ele tece o raciocínio de forma a chegar a conclusão de que, visto que o homem reina e tem poder sobre todos os seres vivos, quando ele é capaz de tratar e ter compaixão por um ser teoricamente inferior a ele, como Teresa fazia com Karênin, é que poderia ser medido o seu valor, já que abrira mão do direito exercer seu poder sobre o animal. Entre outras, esta foi uma das grandes lições que tive ao ler o livro.

Na versão que eu tenho, não se fala muito do autos, apenas o nome, a cidade e a data de nascimento, o que eu achei fantástico! Eu sempre fico expeculando sobre o qua na vida do autor pode tê-lo levado àquele tipo de texto, mas desta vez eu simplesmente não pude. O que me foi disponibilizado foi a obra, o suficiente para que eu entendesse a idéia do autor.

domingo, 18 de abril de 2010

Elas e eles











Chico



Sei lá, é Chico, e Chico enobrece.

João Valentão



Não sei porque chamam ele de preguiçoso. Dorival Caymmi foi devagar se tornando um mestre. Mestre e viver calmamente.

Templo

O meu templo é um barco sollto no por do sol
Onde o coro de pássaros vem calar o pensamento
E a pregação do mestre escoa sobre a face
Não há porta nem convite para entrar
Porque estão todos dentro dele, saibam ou não
A única fronteira é o último suspiro

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Reflexão

De repente eu comecei a olhar para trás e a repensar as minhas atitudes. Isto em mim é quase uma ação involuntária, assim como a negação da maioria das minhas escolhas. Não tenho a invejável habilidade de deixar a vida me levar e levo tudo muito a sério.
Meus pensamentos correram sobre as vezes em que disse algo que deixasse alguém feliz. Isto tem norteado bastante as minhas ações, afinal, eu não sou o único que tem as suas inseguranças e carências. Há um grupo de pessoas na minha vida ao qual eu disse apenas algumas palavras, que para mim significaram muito pouco, era quase um exagero o modo como as proferi e o silêncio que se instalou acerca delas, mas para quem as ouviu parece ter significado muito. Hoje, estas pessoas me agradecem, e eu nem citei Camões ou Shakespeare. Ela parecem me ver com entusiasmo, e talvez por me conhecerem pouco, parecem gostar de mim.
Eu já senti isso, e passei então a sorrir como um retardado. Este é o máximo de que podem me chamar, nunca dirão "aquele chato", "depressivo", "pessimista", "calhordas"... As pessoas, penso eu, não me classificam assim, e se classificam, parecem gostar de comportamentos "retardados". Quando tenho domínio sobre as minhas ações, procuro parecer acolhedor, motivado e satisfeito, mesmo que interiormente isto seja uma grande mentira. Passo então a ser motivado e satisfeito pelas ações das outras pessoas a meu respeito e por naturalmente não esperar nada em troca, acabo me surpreendendo.
E é bastante simples ser "legal" sem ser falso. As pessoas invariavelmente alegram-se pelos mesmos motivos. Quando você, por exemplo, trata o problema de alguém como importantíssimo, mesmo que seja algo fútil, ele vai se sentir compreendido. Quando você aparenta se esforçar e usar a inteligência de forma a conseguir o melhor resultado possível para resolver um problema, sem muito esforço, a pessoa vai gostar de você. Quando você lembra o nome, ou algum evento disperso na mente que individualize a pessoa, ela se sente importante. Quando você, mesmo que inventivamente, diz que já teve um problema parecido e deu tudo certo, está mostrando-se próximo da pessoa. Além disso, o que é mais importante, é ouvir. Eu que não sou muito chegado a conversas, procuro deixar a pessoa falar e ouvir atentamente. Muitas vezes o enredo da história não é interessante, mas leva a indícios firmes do comportamento da pessoa e o que é importante para ela. Ouvindo, analizando e apoiando, quase sempre consegue-se um súdito.
Não digo mentiras, quando sei que uma alternativa leva fatalmente ao erro, não titubeio em dizer, mas também não tenho preguiça de orientar e "enfeitar" as outras alternativas. Não desencorajo, procuro sempre achar uma frase customizada que complemente o clichê "Vai dar tudo certo".
Claro que num primeiro nível que socialização, constróem-se laços importantes, mas a sua opinião passa a não ser mais "qualquer opinião". Quando estreitam-se os laços, somos obrigados a admitir defeitos e fantasias das pessoas, e aí não caminho com tanta facilidade. Quando adquiro certa proximidade, a tendência é que eu me torne cada vez mais franco, e como a minha opinião já é em qualquer nível relevante à esta pessoa, acabo por magoá-la.
Preciso trabalhar mais as minhas relações mais íntimas, pois alí, como é muito bem descrito por Saint-Exupéry, somos cada vez mais responsáveis pelas pessoas, e isto não quer de forma alguma dizer que podemos controlá-las ou vigiá-las 24hs por dia, como fazem os responsáveis por máquinas. Com pessoas, a responsabilidade é sempre inevitável e imprevisível. O livro "A insustentável leveza do ser" de Milan Kundera, trata um pouco do assunto.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

10 coisas que mais me irritam

Assistindo aquele programa da Fernanda Young, resolvi fazer um "Top 10" das coisas que me deixam profundamente irritado:

1. Buzina 10 mili-segundos depois que o farol abriu
2. Me fazer ficar na fila para "ir mais rápido" e esquecer de voltar
3. C&A, Renner, Riachuelo, Besni e afins acompanhando uma mulher
4. Trocadilhos idiotas sobre os governantes
5. Pessimistas
6. "Bom diiiia!" logo quando acordo
7. Pré-adolescentes
8. Fazer a barba
9. Pessoas estressadas no trânsito
10. Palpite de quem eu não confio e que não perguntei

Tinha elaborado um "Top 50", mas selecionei os dez mais.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Minustah

Apurem os ouvidos
Ouçam o palpitar das pálpebras exaustas
Ouçam o gemido do peito insistente
Ouçam a sinfonia da vida na morte
Apurem os ouvidos
apurem o instinto insubordinável
vejam além do caos
Olhem fundo e através do que está
Expire o que pode ser
Imagine o meio do interior do fundo da alma
Peguem-na, alcancem enquanto há tempo
Apurem os ouvidos
Deite a face no chão e sinta-o
Lá está a vida eterna em tantos
que por pouco se esvai
Apurem os ouvidos
Ouçam o urro selvagem do coração
Segure os joelhos, coordene as pernas
Resista ao bailar do barro
Apurem os ouvidos
E deixem que os cães trabalhem
Deixe que a nossa incapacidade de sentir
Além da podridão fúnebre da tragédia
Seja compensada pelo afeto e cooperação
Apurem os ouvidos
Enquanto inquietos os cães farejam
um atrevido odor de alma
um cheiro ofensivo e irritante
Apurem os ouvidos
e deixem que o cinza exale o negro
Num cheiro vermelho quente
Num meio descaracterizável
duma rocha morta e sufocante
os restos de vida que não querem jazer
Apurem os ouvidos
para o choro da terra que trouxe a si
O que não conseguiu mais suportar
O que já lhe era entregue sem pedir
Sem dar à terra um pouco de paz
Apurem os ouvidos
Há resquícios de vida pairando no ar
Deixem que os cães a encontrem
E não economize uma gota de suor
Enquanto não emergir da terra
O que ela não quis levar

domingo, 10 de janeiro de 2010

Que será?

Que será este nogócio de amor?
Tanto se fala nisso que já tenho vontade.

Idéias em R.E.M. 11

Ah, e este maníaco que vem todas as noites me atormentar... é por isto que eu não durmo! Nunca estou a sua espera mas ele sempre vem... Cansado ou não, preciso ouví-lo! O silêncio que ele faz é assustador. Não se houve a porta, nem a janela, nem sei ao certo por onde ele vem... Só queria proibí-lo, mas não posso! Antes eu podia, agora ele sabe o quanto eu sou fraco durante as noites, vem seguindo a insônia e só sai quando eu me perco. Eu refuto, contraponho, interpelo, contradigo, mas ele não se incomoda.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Maria Gadú

Tando rezei que logo apareceu... Maria Gadú
Trabalhando e estudando Engenharia numa universidade pública, não sobra tempo para muita coisa além do essencial. Aproveitei minhas férias para viajar no youtube e tenho até uma historinha curiosa.
A primeira música da Maria Gadú que eu ouvi foi Shimbalaiê e pelas batidas de violão e o título logo fui imaginando a cara desta tal: uma sandália romana no pé, uma saia indiana, uma blusinha surrada e um cabelo desarrumado. Não sei o que foi que me deu na telha, mas resolvi saber quem era, já que os ingressos para não sei qual show tinham se esgotado não sei quando e tal... Youtube!
Uma menina com um penteado no mínimo diferente, bermudão, tênis all-star... Putz! De um visual "hipponga anos 60", deparei-me com uma aparência estilo Cássia Eller no finalzinho. Se eu não conhecesse a voz antes da aparência, diria que era cover. Além disso, percebi um fenômeno que vou chamar de "Linguajar metropolizado brasileiro" (o fato de estar em pauta um futuro ícone da MPB me permite quantos neologismos me venham à mente). Ela tem um forte sotaque do Rio, mas usa uma porção de gírias paulistas! É estranho e bonito!
Emfim, ao que interessa, quando você vê alguém num barzinho, bem próximo do público, com um violão e uns caras restafari tocando percussão: MPB moderna. Fatalmente ouviu Caetano, Gil, Novos Bahinanos, Tom Jobin, Chico e principalmente João Gilberto por toda a infância. É o que me parece... Mas sem dúvida, a menina é sensacional e eu me torno um fã dela hoje!



A canção da "Hipponga".



A entrevista: reparem no sotaque, nas gírias e nas influências.





Esta ficou foda demais, não só pela Maria, mas também pela Luíza.





Muito boa, mas o cara solta a franga!

Oração

Um dia em que me sentia extremamente angustiado, comecei a ouvir os meus pensamentos e desesperado, perguntei a Deus o que eu fazia de errado, ou o que eu devia fazer para me livrar das situações que me angustiavam. A primeira coisa que me veio à mente foi "Fortalecer o Espírito". Parece algo um tanto subjetivo e difícil de alcançar, com efito a plenitude pode ser considerada impossível, no entanto, eu sei bem o que eu preciso fazer para "Fortalecer meu Espírito. Está muito ligado a conhecer-se bem, vasculhar dentro de si e viver experiências que possam ocasionar alguma mudança interior. A jornada pode ser traumática, pode decepcionar mas é tão necessária quanto muitas poucas coisas que temos na vida.
Posso entrar para aquele grupo de bloggers que publicam fotos com o seu mentor religioso e lança frases como: "Senhor, me invade", "faz um milagre em mim". Deixo claro que esta não é a minha intenção, já que não sou um entusiasta da Bíblia ou de qualquer outro livro religioso mas respeito muito quem sustenta sua fé neles. Espero que o tom sarcástico da 1a. oração do parágrafo não tenha sido desrespeitoso, cada um escolhe conforme a vontade e esta escolha jamais fez mal à alguém, muito pelo contrário.
Neste processo de Fortalecimento do Espírito, notei que a Oração "Pai Nosso" já não representava com a precisão que eu queria a minha relação com Deus, já que todos os dias eu eu repetia mecanicamente as mesmas palavras que provavelmente continuarei repetindo, mas agora mais como um hino de abertura, que sele a minha comunicação com Deus. Assim, como escrever é algo que me dá um imenso prazer, escrevi duas orações, as quais polparei dos meus maldosos acréscimos, cortes e críticas. São postas aqui do jeito que vieram à mente, e são passíveis de sugestões, desde que não sejam as minhas.

Oração #1

Deus, sei que sou forte e capaz
porque o tenho para me guiar e proteger
Sei que com a vitalidade e prud~encia
que o Senhor me reserva diariamente
Posso alcançar todos os meus objetivos
Sem que para isto deixe pelo caminho
pessoas desfavorecidas ou magoadas
Sei que o Senhor não fez montanhas
que eu não fosse capaz de subir
Sei que ao seu lado e só assim
serei capaz de enxergar meus erros
serei capaz de aprender com eles
poderei levantar, ainda que fraco
e encontrar em Você a força que preciso
para seguir meu caminho pelo mundo
Porque o Senhor está em mim
Aguardando a minha atenção
Pedindo a minha confiança
Acalmando todas as minhas angústias
O Senhor sou eu e tudo que eu vejo
tudo que eu ouço é sinnto é um pedaço seu
Não há meios de buscar a feliciidade
Sem conhecer-se bem como homem
E quando eu for recompor minhas forças
Olharei para dentro de mim
e Você estará lá, guiando-me
Acalantando minhas dores e sofrimentos

Algum dia posso não percebê-lo
Neste dia estarei fraco por estar cego
Neste momento posso descrer na vida
Posso abandonar a minha missão
Posso me entregar aos maus pensamentos
Neste momento, Deus, irrompa sobre minha mente
Mostre-me as vitórias que já conheço
mas que a angústia ma impede de ver
Coloque minha alma no seu colo
E conte histórias sobre um futuro possível
Um bom futuro a que devo ter forças para chegar
Mostre-me os homens bons
Mostre-me o nosso imenso mundo
E as coisas que eu ainda não conheço
Mostre-me como faço para me conhecer bem
Diga-me como fazer feliz todas as pessoas
Diga-me como ajudar quem tem necessidade
Ajude-me a não fazer do mundo
apenas uma simples passagem
Ensine-me a sentí-lo, a sentir-me
do jeito que eu sou
Endireite meu caminho
Mesmo quando a minha teimosia
quanndo a minha ambição, a minha insegurança
Estiverem preponderantes na minha alma
Segure a minha mão e levante-me
Mostre-me o caminha que devo seguir
E eu seguirei, assumindo todas as consequências
Pois o tenho como alegria na vida
E o caminho não será o mesmo
Não serão as mesmas pedras imóveis
Contigo, meu Deus, vou tornar o mundo melhor
Vou amar as pessoas e rir com elas
Vou ensiná-las como viver em paz
Até que elas percebam por elas mesmas
Que a paz está contigo
E Você não é o destino ou o objetivo
É o antes, o durante e o depois
é o caminho que nos deixará,
Ainda que miudos e pueris,
Fortes e avassaladoras dádivas do universo
Meu Deus, sei que hei de ouví-lo
Sei que devo seguir e ensinar seus conselhor
Sei que o que deiz é o que me fará feliz
E o que fará feliz o resto do mundo
Quando estiver conosco
Sigo em frente para sempre
Sob sua guia e seu amparo
Quando eu enfraquecer

Terei fpaciência, cuidarei de mim e dos outros
Saberei perdoar e compartilhar minhas vitórias
Com a sua bênção e luz
às quais serei imensamente grato
Amém

Oração #2

Deus, quando me faltarem motivos
Preencha-me com sua luz
Quando me faltar humildade
Mostre-me quem eu sou
Quando me faltar respeito
Diga-me como eu me sentiria
Quando eu for mesquinho
Mostre-me o mundo
Quando eu estiver desesperado
Ponha minha alma no seu colo
Quando eu sentir inveja
Mostre-me o que eu realmente preciso
Quando eu não me entender
Explique-me
Quando eu for indiferente
Me faça ver co mais clareza
Quando eu estiver descrente
Lembre-me de tudo que conquistei
Amém


terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Muita água!

Rio Paraíba do Sul: mais de 4 metros acima do normal;
Foz de Iguaçú: 6 vezes o volume de água previsto;
Rio Jacui: subiu 1 metro em 1 noite;

Nhô Neca



Pelas redondezas do ribeirão, um dia foi difícil encontrar um homem tão conhecido. É daqueles que parecem ser velhos há muitas gerações. Os mais antigos contam que desde criança ele tinha aqueles talentos. Ainda moleque, tinha que trabalhar na roça e ali fazia o seu palco.
Sua mãe teve 12 filhos, 8 homens e 4 mulheres, sendo que um homem morreu no parto. Com esta filharada, estava bem reforçada a mão-de-obra da roça e se podia garantir a sobrevivência de todos os membros daquela família. Todos muito trabalhadores, mas só um esperto: o Nhô Neca. Os outros se dividiram entre mal casados e maus pinguços. Nhô Neca casou logo com a Nhá Dita que fazia um doce de leite de dar inveja. Na criancisse era um menino ágil e muito conversador, foi calçar uma sandália aos 7 anos de idade, até então só andava descalço, o que lhe trouxe uma porção de calos na sola dos pés e nos dedos espalhados. Estes calos tinham poderes que quase tornaram o Nhô Neca um santo. Era desde pequeno um fã de pescaria e ninguém pescava os lambarís do tamanho dos dele, eram enormes. Convenientemente ele se apressava na labuta para correr ao rio na calmaria do fim de tarde e garantir uma bóia diferente, com carne de peixe. A vara era coisa simples que não foi feita para aguentar os peixes dele: um bambú fino, uma linha que alguém lhe dera há algum tempo, uma pedra e um anzol amarrados à linha. Umas vezes improvisava uma bóia de alguma fruta seca para facilitar a pescaria. Foi se tornando um doutor nos assuntos do ribeirão, sabia todas as espécies de peixes do rio, o que eles gostavam de comer e como pescar na piracema. Mas o que quase lhe deu o mérito de santo foi o domínio da previsão do tempo. Bastava o sentir uma fisgad no calo que ele sabia se choveria ou faria sol. Ele atribuía o poder primeiro a Nosso Senhor Jesus Cristo, depois aos calos que com muitos custo adiquiriu e que coçavam e doíam conforme fosse o tempo no dia, semana ou mês seguinte. Não se sabe dizer ao certo se era o calo, NSJC, ou qualquer outra coisa do tempo de ouro do Nhô Neca que lhe fizeram um homem ilustre pela região, mas dizem que numa data que já não se tirava um peixe do ribeirão, muita gente já migrava da região ou trabalhava para os fazendeiros desaforados, o Nhô Neca disse que tudo aquilo era por causa de uma planta que nascia nas profundezas do rio e que sumiria na próxima seca que estava por vir. Ninguém acreditou, mas dalí uma semana não havia espaço para tanto peixe. Já associaram o Nhô Neca à Santa do Rio Paraíba e fizeram do homem um Santo por rebatimento. Desde então quando se queria saber do tempo, aumentar o preço do quilo de peixe, pescar uma espécie ou outra no rio, recorria-se aos calos do Nhô Neca, pois estes nunca falharam. Mas de um tempo para cá as coisas mudaram. Puzeram uns muros de contenção de água num ponto do rio que são umas enormidades de grandes. A água que vinha antes do muro chegou a subir uns 15 metros e muita gente que vivia nas margens do rio teve que arredar dalí. Apareceram umas espécies de peixe que nunca ninguém tinha visto, e estas novas comeram os ovos das velhas e já não se vê em determinadas partes nenhum exemplar da espécie de antes. Deram carteirinhas aos pescadores e proibiram o uso da rede para preservar a natureza do local. Ficou tudo tão difícil e as habilidades do Nhô Neca com o rio já nem se fazem mais perceber. Todo o conhecimento que ele adiquiriu, melhorou e espalhou pareciam não servir de nada. Como se não bastasse, de repente chega uma chuva e nenhum calo coça, nem dói. Não acerta mais nas previsões. Já velho tornou a pegar no cabo de enchada para ver se não era porque os calos tinham amaciado, mas de nada adiantou, só vieram dores e mais erros. Nhô Neca vive hoje numa aflição sem tamanho e não entende porque NSJC tirou dele um poder que soube usar tão bem. Uma hora chove, faz um frio, dali um instante sai um sol de rachar. No alto de sua caduquisse chegou a chamar o Menino Santo de ingrato e a desejar a morte. O Nhô Neca está de dar dó, vive por aí vendendo os doces da Nhá Dita, estes continuam ótimos.

A ironia de Cathie

Naturalmente às 4 horas da manhã há muito pouca gente acordada. Seu marido estava, mas bem longe dalí. Ela levantou para ajeitar o lençol pois a sua insônia despira a cama, mas não conseguiu voltar ao sono. Tinha uma angústia incontrolável e aparentemente inexplicável.
Foi arrastando os pés pelo chão do casebre até chegar ao banheiro, então acendeu a luz e encostou a porta, deixando no corredor uma fresta luminosa. Olhou-se no espelho acima da pia. Este já tinha aquelas manchas de espelho velho cuja fina camada de metal já começa a descolar do vidro e ela mantinha o olhar fixo no centro negro dos olhos castanhos. Pareceria um animal embalsamado com os olhos fixos e secos como aqueles, mas a respiração ofegante como a de quem acorda de um pesadelo davam-lhe um aspecto mais vívido, ainda que próximo da morte.
Desviou subtamente o olhar e começou a procurar no banheiro qualquer outra paisagem. Viu ao lado do vaso com a tampa aberta um cesto de roupas do qual pendia uma calcinha de criança. Colocou para dentro e tornou a olhar-se no espelho por uns segundos. Abriu a torneira com um ruído de metal enferrujado, raspou as mãos no sabonete e com avidez esfregou a face até não poder mais enxergar entre as bolhas de sabão. Com o jorro de água da torneira que a fazia se contorcer diante do jato baixo, esfregou a face até ver na palidez a vermelhidão da limpeza. Fez uma concha com as mão e tornou a esfregar e então levantou o rosto, olhou-se subtamente, apanhou um removedor de maquiagem e sentiu o ardor do álcool nos póros agora tão vulneráveis.
Pegou a toalha e enxugou o rosto, tornou a olhar-se no espelho, mas desta vez a percorrer todo o limiar do seu busto. Sua expressão foi mudando, os lábios estremeceram e em poucos instantes já dava ao seu rosto um bálsamo de lágrimas silenciosas. Olhava a pia, abria a troneira, molhava mais os olhos, secava-os e se acalmava numa respiração intensa.
Olhou novamente a sua face e viu lá um indício, uma prova que a condenava à tristeza. Um monstro emergia do painel humano. Um monstro assimétrico de quem sempre teve medo. Evitava os espelhos e só os tinha nos banheiros, diferentemente de qualquer outra mulher. Não queria encarar o monstro dos fatos e do tempo, não estava preparada para ele, mas desta vez estava alí, de frente do monstro que nunca fora publicado naquelas revistas que esculpiam a sua memória. Ninguém o conhecia, ninguém o via ou acreditava que ele existisse.
Era frequentemente taxada de neurótica e tola por crer em montros, mas as pessoas não têm sensibilidade para conhecer nossos monstros. Só nós mesmos quando mergulhamos em lembranças que um episódio revisitou, mergulhamos dentro deste pântano e vemos os montros que mais nos fazem querer sair dalí. Ela ia fundo neste pântano, tão escuro que não se pode ver nada em volta, então, imagina-se. Construiu neste pântano algo que não era e a isto se apegou, temendo sempre que emergissem da lama os monstros da realidade.
Afundava-se em sí num ponto em que não podia sair. afogava-se, asfixiava-se dentro de si e la morria de frente ao espelho, não importando quantos anjos a quizessem salvar ao seu redor. Em frente ao seu reflexo, via a deterioração da sua luta, da sua vida e perceguia-o com medo, indo cada vez mais fundo, até não ser nada mais.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Tente fazer isto

É o cúmulo da sincronia:

David Guetta

É o que tem me agradado no rádio atualmente:













A música do ano!

Jakob Dylan

Há algum tempo eu descobri na MTV que o Bob Dylan tinha um filho que também cantava, e muito bem. Eu arrisco dizer que a voz dele é inclusive melhor que a do pai, se desconsiderarmos que a música do Bod Dylan, do jeitinho que ela é cantada, representa mais de 30 anos de história e (contra)cultura.
Ele puxou ao pai a cara de "nascido velho". Quanto a criatividade, prefiro poupá-lo de comparações que seriam fatalmente injustas já que falo de um cara chamado Bob Dylan.

Soul kingdom

Eu me divirto procurando no youtube duetos de cantores que eu curto. Abaixo dois dos principais nomes do Soul Music, senão os principais.





2010!

2009 chegou ao fim muito rapidamente. Quando se passa dos 15 anos, todos os anos dão a impressão de findar muito rapidamente... Mas 2009 vai ser certamente um ano que será citado em muitos livros de história, geografia e outros, por isto, faço questão de lembrar de cada momento marcante do ano, mas não vou chatear ninguém com uma retrospectiva um tanto clichê do ano que passou.
As chuvas intensas e as tragédias por elas ocasionadas deram a 2010 já um aspecto de continuação de 2009, para os que só atentam às tragédias. Não se fala em outra coisa e não podemos negar que o assunto é de fato importante, mas acabou esfriando todo o entusiasmo de janeiro. Eu por exemplo, que tinha tantas perspectivas para 2010, não consigo pensar nelas, tenho uma espécie de bloqueio do qual vou tentando me livrar para não ser pego de surpresa.
Neste ano terei de tomar decisões e atitudes cruciais na minha vida e na de todos os meus conterrâneos e todas estas responsabilidades jogadas nas minhas costas talvez tenham me deixado mais preocupado que entusiasmado, mas o que digo com segurança é que 2010 deve ser tão recheado de acontecimentos marcantes quanto 2009, mas muito dificilmente será apenas a sua continuação.
Sinto como se o mundo em 2009 tenha tomado conciência de sua situação e muitos aspectos e 2010 cobra de todos ações que corrijam os equívocos do caminho. O mais obscuro dos segredos é o mês de dezembro de 2010...

Mesmo ciente de que o ano não será apenas de saúde, alegria, paz e properidade, cabe o consolo de saber que há alguém no mundo que trabalhará por isto.