Naturalmente às 4 horas da manhã há muito pouca gente acordada. Seu marido estava, mas bem longe dalí. Ela levantou para ajeitar o lençol pois a sua insônia despira a cama, mas não conseguiu voltar ao sono. Tinha uma angústia incontrolável e aparentemente inexplicável.
Foi arrastando os pés pelo chão do casebre até chegar ao banheiro, então acendeu a luz e encostou a porta, deixando no corredor uma fresta luminosa. Olhou-se no espelho acima da pia. Este já tinha aquelas manchas de espelho velho cuja fina camada de metal já começa a descolar do vidro e ela mantinha o olhar fixo no centro negro dos olhos castanhos. Pareceria um animal embalsamado com os olhos fixos e secos como aqueles, mas a respiração ofegante como a de quem acorda de um pesadelo davam-lhe um aspecto mais vívido, ainda que próximo da morte.
Desviou subtamente o olhar e começou a procurar no banheiro qualquer outra paisagem. Viu ao lado do vaso com a tampa aberta um cesto de roupas do qual pendia uma calcinha de criança. Colocou para dentro e tornou a olhar-se no espelho por uns segundos. Abriu a torneira com um ruído de metal enferrujado, raspou as mãos no sabonete e com avidez esfregou a face até não poder mais enxergar entre as bolhas de sabão. Com o jorro de água da torneira que a fazia se contorcer diante do jato baixo, esfregou a face até ver na palidez a vermelhidão da limpeza. Fez uma concha com as mão e tornou a esfregar e então levantou o rosto, olhou-se subtamente, apanhou um removedor de maquiagem e sentiu o ardor do álcool nos póros agora tão vulneráveis.
Pegou a toalha e enxugou o rosto, tornou a olhar-se no espelho, mas desta vez a percorrer todo o limiar do seu busto. Sua expressão foi mudando, os lábios estremeceram e em poucos instantes já dava ao seu rosto um bálsamo de lágrimas silenciosas. Olhava a pia, abria a troneira, molhava mais os olhos, secava-os e se acalmava numa respiração intensa.
Olhou novamente a sua face e viu lá um indício, uma prova que a condenava à tristeza. Um monstro emergia do painel humano. Um monstro assimétrico de quem sempre teve medo. Evitava os espelhos e só os tinha nos banheiros, diferentemente de qualquer outra mulher. Não queria encarar o monstro dos fatos e do tempo, não estava preparada para ele, mas desta vez estava alí, de frente do monstro que nunca fora publicado naquelas revistas que esculpiam a sua memória. Ninguém o conhecia, ninguém o via ou acreditava que ele existisse.
Era frequentemente taxada de neurótica e tola por crer em montros, mas as pessoas não têm sensibilidade para conhecer nossos monstros. Só nós mesmos quando mergulhamos em lembranças que um episódio revisitou, mergulhamos dentro deste pântano e vemos os montros que mais nos fazem querer sair dalí. Ela ia fundo neste pântano, tão escuro que não se pode ver nada em volta, então, imagina-se. Construiu neste pântano algo que não era e a isto se apegou, temendo sempre que emergissem da lama os monstros da realidade.
Afundava-se em sí num ponto em que não podia sair. afogava-se, asfixiava-se dentro de si e la morria de frente ao espelho, não importando quantos anjos a quizessem salvar ao seu redor. Em frente ao seu reflexo, via a deterioração da sua luta, da sua vida e perceguia-o com medo, indo cada vez mais fundo, até não ser nada mais.
Foi arrastando os pés pelo chão do casebre até chegar ao banheiro, então acendeu a luz e encostou a porta, deixando no corredor uma fresta luminosa. Olhou-se no espelho acima da pia. Este já tinha aquelas manchas de espelho velho cuja fina camada de metal já começa a descolar do vidro e ela mantinha o olhar fixo no centro negro dos olhos castanhos. Pareceria um animal embalsamado com os olhos fixos e secos como aqueles, mas a respiração ofegante como a de quem acorda de um pesadelo davam-lhe um aspecto mais vívido, ainda que próximo da morte.
Desviou subtamente o olhar e começou a procurar no banheiro qualquer outra paisagem. Viu ao lado do vaso com a tampa aberta um cesto de roupas do qual pendia uma calcinha de criança. Colocou para dentro e tornou a olhar-se no espelho por uns segundos. Abriu a torneira com um ruído de metal enferrujado, raspou as mãos no sabonete e com avidez esfregou a face até não poder mais enxergar entre as bolhas de sabão. Com o jorro de água da torneira que a fazia se contorcer diante do jato baixo, esfregou a face até ver na palidez a vermelhidão da limpeza. Fez uma concha com as mão e tornou a esfregar e então levantou o rosto, olhou-se subtamente, apanhou um removedor de maquiagem e sentiu o ardor do álcool nos póros agora tão vulneráveis.
Pegou a toalha e enxugou o rosto, tornou a olhar-se no espelho, mas desta vez a percorrer todo o limiar do seu busto. Sua expressão foi mudando, os lábios estremeceram e em poucos instantes já dava ao seu rosto um bálsamo de lágrimas silenciosas. Olhava a pia, abria a troneira, molhava mais os olhos, secava-os e se acalmava numa respiração intensa.
Olhou novamente a sua face e viu lá um indício, uma prova que a condenava à tristeza. Um monstro emergia do painel humano. Um monstro assimétrico de quem sempre teve medo. Evitava os espelhos e só os tinha nos banheiros, diferentemente de qualquer outra mulher. Não queria encarar o monstro dos fatos e do tempo, não estava preparada para ele, mas desta vez estava alí, de frente do monstro que nunca fora publicado naquelas revistas que esculpiam a sua memória. Ninguém o conhecia, ninguém o via ou acreditava que ele existisse.
Era frequentemente taxada de neurótica e tola por crer em montros, mas as pessoas não têm sensibilidade para conhecer nossos monstros. Só nós mesmos quando mergulhamos em lembranças que um episódio revisitou, mergulhamos dentro deste pântano e vemos os montros que mais nos fazem querer sair dalí. Ela ia fundo neste pântano, tão escuro que não se pode ver nada em volta, então, imagina-se. Construiu neste pântano algo que não era e a isto se apegou, temendo sempre que emergissem da lama os monstros da realidade.
Afundava-se em sí num ponto em que não podia sair. afogava-se, asfixiava-se dentro de si e la morria de frente ao espelho, não importando quantos anjos a quizessem salvar ao seu redor. Em frente ao seu reflexo, via a deterioração da sua luta, da sua vida e perceguia-o com medo, indo cada vez mais fundo, até não ser nada mais.
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