É atribuído ao tempo a propriedade de curar as dores que ao longo do tempo o acaso nos trouxe. Proponho a seguinte ressalva: o tempo não procura as dores encobertas, as dores escondidas, as dores de que sequer se sabem os motivos. Nelas o tempo bate o pêndulo a cada encontro de si consigo mesmo. No início, bate de leve, só para lembrar que há algo de errado, mas num dado momento espanca até a dor se espalhar e o sofrimento superar o medo de assumir a dor.
O tempo é um curandeiro cruel, que mesmo tendo o remédio para todas as dores, nos faz doer até que a dor se faça em remédio à sua própria causa.
A dor é, portanto, o remédio mais poderoso do tempo. É ela que mostra o que é prazer, ou estado de não dor. É ela que provoca mudanças. É a dor, enfim, a responsável por toda a reputação do tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário