Tem muita gente que faz faculdade só para ter o diploma e eu não era destes. Eu não frequentava festinhas de bebedeira sempre e eu chegava a evitá-las. Tinha um grupo de amigos que andavam comigo pelos corredores, escada, páteos, e quaiquer ambientes da faculdade. Tinha meus relacionamentos, mas eu cobiçava uma garota em especial e fiz isso por cerca de 1 ano sem nem mesmo saber seu nome.
Ela estava sempre rodeada de garotas tão bonitas quanto ela, o que só fui perceber há pouco tempo, e vivia a dar sorrisos e gargalhadas em rodas de conversas pelos corredores. Eu passava e olhava meio de lado, com a certeza de que não era percebido. Mas meu caminho, por um ano e meio, foi por onde ela havia passado. Descobri seu nome e telefone por intermédio de uma colega sua que "ficara" com um amigo meu, mas me faltou sempre coragem de ligá-la.
Nos fins de semestre, especialmente no fim do ano, havia um monte destas festinhas que eu comentei para comemorar o término do período de provas. Decidi ir em uma, era de um amigo meu e eu não queria ficar em casa.
No início da noite, aconteceu o esperado: casais aos montes, até professores, muita conversa e risadas. Ao meio, ela chegou na festa. Tinha aquele ar de preocupação e tristeza que tomara conta do seu semblante nas últimas semanas, eu a vira até chorando num canto do páteo com as amigas à sua volta a questionar o porquê. Mas parecia estar bem mais recuperada. Fiquei sabendo que estava triste devido ao namoro que terminara, e trinquilizei-me em saber que não estava grávida.Vestia uma roupa que valorizava todos os seu pontos fortes e eu não fui o único a olhar com ar de cobiça quando ela entrou. Ao fim da festa quando somente restavam os bêbados e os donos da casa, restavam também eu e ela, rindo juntos e abraçados!
Como já não se distinguia qualquer conversa no lugar, nosso papo ficou cada vez mais íntimo e quente. Isolamo-nos então, para que eu pudesse, enfim, desfrutar do meu sonho de consumo, fomos para baixo da escada que levava aos salão de onde vinhamos, havia, muito próximo de nós, três cães amarrados e presos num pequeno cômodo onde eram jogadas as tralhas do meu amigo. Foram as únicas testemunhas do crime.
Eu devo ter deixado marcas em todo o pescoço dela, e senti o gosto de cada centímetro da parte frontal do seu corpo, saboreei como um animal faminto que come devagar para adiar o fim. No momento em que tudo aquilo ficou insustentável, penetrei-a, enquanto nos beijávamos e ela gritava e grunhia, mas os latidos dos cães abafavam nossa festa. Foi intenso e em certo momento percebi que ela quis parar ao meio, mas eu não deixei e ela se entregou.
No dia seguinte não podia conter o meu apreço pelo dia nublado que nascera com os gritos para acordar de minha mãe. Quando voltei à faculdade novamente, queria vê-la, já que tentara ligar mas o número estava ocupado sempre. Ela teria desistido da faculdade, segundo uma amiga, por problema de doença na família.
Senti muita pena, pois ela parecia tão dedicada. Além do mais, eu estava apaixonado, e faria tudo para ajudá-la com o famíliar adoentado. Pedi seu endereço, e ela mudara-se, ninguém sabia para onde ou porque, mas todos reconheciam a estranhesa da sua atitude. Então, vê-la se tornou uma necessidade, sobretudo quando em um exame clínico admissional, fiquei ciente de que me tornara soro-positivo.
Ao longo dos meus 21 anos de vida, tentei me preparar para tudo, até para morte, mas esquecera-me disto. Tudo rodou pela minha cabeça na terciera vez que eu fizera o exame. Pareceu-me, na minha memória, que tudo fora planejado contra mim, tudo suscitara àquilo, e eu não notara. Toda a sua beleza me voltava do estômago à boca num gosto amargo e irritante. Queria terminar com tudo aquilo e morrer de vez, mas já contara a minha família, e ela, destruída e chorosa, me impedia. Estava condenado a solteirice, aos coquetéis e aos "casos especiais" das infecções. E quando diziam que isto me fará enchergar o mundo de outra forma, perguntava-me se ainda poderia enchergar o mundo, não havia mais nada pelo que lutar.
Num hospital que me fornecia o coquetel, sentei-me numa poltrona, de frente à mulher a quem resguardei meus desejos e mimos. Ela estava desfigurada, mas a reconheci pelos olhos de pânico ao me ver. Senti toda a adrenalina correr pelo meu corpo, meu coração disparado. Senti seu sangue entre meu dedos e sua traquéia partida nas minhas mãos, ouvi seu grito de piedade e seu choro nojento, tudo naquela fração de segundos. Mas não dei nenhum passo. Não disse uma palavra do que queria dizer. Acho que chorei e ao me ver chorando ela saiu aos prantos do local. Chorar é tudo que faço, que mais poderia aliviar a minha dor? Espancar a aidética que me infectou? Agora, de que adiantaria? Agora, Inês é morta.
Cabe dizer que não sou o "eu-lírico" do texto. Este foi um texto que eu fiz nos tempos de colégio e que me deu muito respeito entre os colegas. A proposta era fazer um texto que terminasse com um Dito Popular, e este foi o que eu fiz.
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