De repente um demônio vem
destes chatos como um som agudo
lhe descobrir os pés já tão quentes
lhe inquietar o sono impuro
lhe ronda o corpo inteiro
endurece o travesseiro
Até por no colo os seus pensamentos
As suas lembranças menos resolvidas
Fica a fazer cócegas nas suas certezas
Até que caiam cansadas e humilhadas
De tento rir de si, de tanto provar nada
Daí adiante o transforma num deles
Que vai propagar dúvidas aos ventos indecisos
Que vai cutucar o choro dos mais suprimidos
Não sossega desta maldição que o condena
A pensar tanto que não chega a valer a pena
Manter o caderno fechado como um alheio
A tanta melancolia de que já está cheio
Então arranha com ódio e com calos
Do que não transpassa os seus gargalos
Do que te faz ver tudo mais complicado
Não tarda a ir embora, se é que não foi já
Nos deixa a falar sós das maselas que temos cá
Querendo saber do futuro do que nunca aconteceu
Contando os fatos do que é tudo sonho seu
Se os diabretes tivessem mais poder
Ou se tivessem mais bondade
Poria meus sonhos de alegria a cozer
Prontos, os tornaria realidade
Mas as pestas são assim, malvadas
Dão-lhe esta miséria de poder de escrita
E uma cabeça infame, estúpida e inadequada
Todos os sonhos são os melhores para o mundo
Mas o mundo é restrito para os sonhos
De quem sonha com um mundo diferente no fundo
Só fica refratando na mente um desejo moribundo
Organizados assim em tom poético
parecem nem ser a babel da minha cuca
Dá a toda a bagunça um olhar patético
Que enfim põe o travesseiro a acolher minha nuca
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