Para quem como eu tem curiosidade de saber quais são aquelas espécies de animais e vegetais citados em certas músicas, segue uma delas:
Vocês já viram lá na mata a cantoria
Da passarada quando vai anoitecer
E já ouviram o canto triste da araponga
Anunciando que na terra vai chover
Já experimentaram guabiroba bem madura
Já viram as tardes quando vai anoitecer
E já sentiram das planícies orvalhadas
O cheiro doce da frutinha muçambê
Pois meu amor tem um pouquinho disso tudo
E tem na boca a cor das penas do tié
Quando ele canta os passarinhos ficam mudos
Sabe quem é o meu amor, ele é você
Você, você, você
Penas do tiê - Desconhecido
Vocês já viram lá na mata a cantoria
Da passarada quando vai anoitecer
E já ouviram o canto triste da araponga
Anunciando que na terra vai chover
Já experimentaram guabiroba bem madura
Já viram as tardes quando vai anoitecer
E já sentiram das planícies orvalhadas
O cheiro doce da frutinha muçambê
Pois meu amor tem um pouquinho disso tudo
E tem na boca a cor das penas do tié
Quando ele canta os passarinhos ficam mudos
Sabe quem é o meu amor, ele é você
Você, você, você
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Sem compromisso
Ao dobrar a esquina me deparei com um pé de ipê. Era o mais lindo e florecido pé que pude ver em toda a minha vida, e estava ali ao dobrar a esquina.
Seus galhos retorcidos e quase sem folhas subiam a uma altura que permitia a quem o plantou observá-lo por todos os anos em que viesse a extender sobre o chão da rua seu tapete amarelo. Simples, sem ostentações ou raridades, ao alcance de minhas mãos que não quizeram tocá-lo, bastava saber que coexistíamos no mesmo espaço, que complementávamos a existência mútua. Ele estava ali para ser belo, e eu para ser muitas coisas. Passariam invernos e outonos sem que ninguém notasse sua singularidade, mas na primavera, o raio tingido de sol que faria em volta de si, até dos mais desatentos, teria atenção.
Um cinza não como uma tempestade, mas como o piche que tapa o nariz da terra, é soberano naquela esquina, até que no quadrado em que finca suas raízes o pé de ipê contrasta com o cinza o amarelo, que não é o das faixas que limitam, mas das flores que inspiram.
Sem compromisso, como aquelas flores de ipê espalhadas pela esquina, deixo aqui este textinho do meu prazer em ainda poder ver o ipê amarelo sobre o asfalto cinza na esquina da minha casa.
Um pedaço de morte
Com uma fúria silenciosa, que falta fúria e sobra silêncio, pára. Não se sabe no que pensa nem no que gasta o tempo, mesmo que seja na mais nobre das atividades, pára. Não se sabe se alguém verá nem quando o primeiro SMS será enviado aos parentes e amigos para que tomem nota do acontecimento fatal, simplemente pára.
Está-se entregue ao que a muitos deu a fé, a outros deu a dúvida, a outros não deu nada. A estes últimos a morte é como a vida, não vale nada. Não há quem possa dizer qual a profundeza deste nada, não há quem esteja vivo para contar como é a morte.
Ficamos a esperá-la, todos nós, num momento oportuno, como se este houvesse, um que não haveria saudade, dependência, razão. Aí estaríamos prontos para morrer. Ao que nos consome, estamos prontos para a morte no momento em que morremos.
Poderíamos crer, todos juntos, que a morte levaria qualquer vida a plena felicidade, por mais chatenante que possa parecer, e que se encontrasse com todos os já idos de que sentia falta. Mas a falta eterna que fará na conciência degrada os restos de ilusões que ainda temos.
Aos que o amavam, não fica nada, pois não há como dizer que existe a saudade se a saudade é ausência e a ausência não está. E este espaço jamais é preenchido. Este pedaço nunca é reposto. Estes advérbios sempre cabem a esta situação.
Um ponto final, umas reticências, muitas exclamações, ou uma interrogação? Para quem está lá, não resta dúvida, não resta nada. É como um estágio de pleno desenvolvimento humano, de absoluta adaptação, são sanadas todas as dúvidas, cumpridas todas as obrigações. É um ser que a partir de agora é superior a todos, conhece o que todos temem por desconhecer. É um herói, um mártir, um exemplo, como todos os outros, enterrados na mítica memória.
A decomposição dos fatos termina, quem sabe, antes que a do corpo comece. Quem sabe alguém viu, testemunhou a ausência de sangue que virou ausência de tudo. Esta pessoa é a mais profética de todas as que já gastaram os joelhos sobre a terra. Ela sim viu o futuro da humanidade.
A nossa única certeza é ironicamente uma incerteza absoluta. Acerca dela há diversas teorias como acerca de tudo. Nenhuma comprovada, nenhuma comprovável, nada, nada, nada!
Desde que me levaram um, deixei de me preocupar com isto. Me terem levado é uma ação que eu criei para que mesmo desconhecendo a razão de tamanha maldade, a minha dor fosse abrandada. Dizer que não me preocupo com isto é quase um erro que tem a mesma finalidade de acreditar que me levaram alguém.
Todo o ritual inventado, toda a celebração em despedida, só serve para dar à homenagem o atraso, aos amigos e familiares o desespero e às velas e às flores o cheiro de morte. Quando se feixa o caixão e com muito cuidado ele é acomodado nuns centímetros quadrados, é trancado nele por inteiro os pedaços de quem fica apenas com lembranças. Naquele momento, o nunca mais que sai da boca fere menos que o que salta aos olhos.
Mas é o fim, é o começo, é o que quizer. Deveria ser como as crianças que transparecem a fraqueza de todos num choro sem fôlego para não tardar a brincar de esconde-enconde entre as lápides, como quem foge do tiro um dia certeiro que sentencia todos nós ao que jamais conheceremos em vida.
sábado, 19 de setembro de 2009
Um vira-lata
Um sem raça
um renegado pelas ruas
um mestiço de tudo com tudo
Desconhece sua origem, seu destino
Conhece a vida e a noite
vem rasteiro como quem não quer nada
lhe pedir um banho
Vem invadir o seu lar
Invade sua vida
seus pensamentos
Vai habitar sua pele em tempos
com os erros a que são dados
com as sensações que são peritos
despenteados, sem donos
sem regras e sem obrigações
Vão invadir sua pele
vão povoar a carne
como nenhum pedigree
é capaz de fazer
Vão lhe fazer uivar
como num cio
infinito, insaciável
um cio de vira-lata
um renegado pelas ruas
um mestiço de tudo com tudo
Desconhece sua origem, seu destino
Conhece a vida e a noite
vem rasteiro como quem não quer nada
lhe pedir um banho
Vem invadir o seu lar
Invade sua vida
seus pensamentos
Vai habitar sua pele em tempos
com os erros a que são dados
com as sensações que são peritos
despenteados, sem donos
sem regras e sem obrigações
Vão invadir sua pele
vão povoar a carne
como nenhum pedigree
é capaz de fazer
Vão lhe fazer uivar
como num cio
infinito, insaciável
um cio de vira-lata
Uma onda
Numa noite sabadina
uma fúria dos mares
vem em onda entre os dedos
que se abrem para sentir
a sua tomada avassaladora
Um segundo e os pelos se levantam
em um alerta esperançoso
que invade o corpo
como uma brisa que vem refrescar
a pele em chamas de um vira-lata
Sobe à cabeça em pensamentos impróprios
em ações explícitas, em grunhidos tênues
Vem trazendo a honra de poder reproduzir
Vem lembrar de que não sempre
se controlam as coxas a roçar o meio
O diafragma começa a desobedecer
como se fosse parar de funcinoar
mas funciona como uma máquina
sugando mais ar para dentro do peito
que parece explodir
vem subindo, paulatinamente
os degrais da espinha
espalhando para os lados
o arrepio imediato
que quando chega a boca
solta um gemido desafinado
Vem trazer o touro
de quem veio a vênus
se insinuar como uma vaca
nos sonhos de netuno
Uma loucura incontrolável
uma condição miserável
Um orgulho de ter as vergonhas
invadidas pelas mais deliciosas
línguas que se põe nos ares
Entre os dedos firmes estão os lencóis
e sugam todo o fluido do corpo
que derrete nos pensamentos mais quentes
que ferve e derrama o leite pelo ar
e vai, como se não tivesse vindo
promentendo que volta
não se sabe quando, nem como
mas volta, e é bem esperada
uma fúria dos mares
vem em onda entre os dedos
que se abrem para sentir
a sua tomada avassaladora
Um segundo e os pelos se levantam
em um alerta esperançoso
que invade o corpo
como uma brisa que vem refrescar
a pele em chamas de um vira-lata
Sobe à cabeça em pensamentos impróprios
em ações explícitas, em grunhidos tênues
Vem trazendo a honra de poder reproduzir
Vem lembrar de que não sempre
se controlam as coxas a roçar o meio
O diafragma começa a desobedecer
como se fosse parar de funcinoar
mas funciona como uma máquina
sugando mais ar para dentro do peito
que parece explodir
vem subindo, paulatinamente
os degrais da espinha
espalhando para os lados
o arrepio imediato
que quando chega a boca
solta um gemido desafinado
Vem trazer o touro
de quem veio a vênus
se insinuar como uma vaca
nos sonhos de netuno
Uma loucura incontrolável
uma condição miserável
Um orgulho de ter as vergonhas
invadidas pelas mais deliciosas
línguas que se põe nos ares
Entre os dedos firmes estão os lencóis
e sugam todo o fluido do corpo
que derrete nos pensamentos mais quentes
que ferve e derrama o leite pelo ar
e vai, como se não tivesse vindo
promentendo que volta
não se sabe quando, nem como
mas volta, e é bem esperada
Entretenimento
Há mais de cem canais
Nenhuma programação digna de atenção
nenhuma distração
mais de duzentos livros
Complexos, densos e chatos
como não devem ser as noites de sábado
umas 30 estações de rádio
tocam todas as mesmas músicas
nenhuma que eu queira ouvir
algumas chegam a irritar
Há milhões de blogs
que me interessariam
em qualquer outra noite
mas que hoje me trazem fadiga
nada é capaz de me livrar deste tédio
nada me desafoga
nada me tira este medo de não suportar mais
É tão comum que se escreva sobre o tédio
mesmo que ninguém me explique bem
de que buraco ele vem
Sente-se assim sem sentido
sem nada, dá até vontade de chorar
Mas chorar porquê?
Que choro é este?
Podia amar loucamente
e suar todas estas lágrimas
até colar com o mesmo sal
meu corpo e o seu
imundos, imersos
Podia urinar todas as impurezas dos meus rins
despejar estes mals espíritos que me prendem
Às vezes faz-se necessário
desrespeitar-se
sentir-se culpado
sentir-se maldito
Às vezes tudo o que se quer é um vício
destes de que não se enjôa
como se enjôa de tudo que não é vício
Mas a televisão...
O rádio então...
Estes blogs...
Porquê, meu Deus?
Fizeste um filho tão insatisfeito
tão inadequado, tão impressionista
Porquê fizeste-me usar a segunda pessoa
Se por onde eu olhe, há só minhas coisas
Só eu, para mim, de mim?
Quem me deu esta obrigação
Quem é o maldito animal
que me fez me prender
a tanta coisa que
é tão pouco para mim
Quem me tapa os olhos
Quem não me deixa ver outra alternativa
Não me deixa ir pelo atalho
que me perde
Quem sabe assim
a tarde de domingo
não começe no sábado
Quem sabe a tarde de domingo
não seja uma pequena culpa
de não saber bem como tudo
foi tão insano no sábado
Quem sabe, sentindo assim
Não nasca em mim
um altruísmo contente
uma idéia feliz que disfaça
este depressivo egoísmo
Nenhuma programação digna de atenção
nenhuma distração
mais de duzentos livros
Complexos, densos e chatos
como não devem ser as noites de sábado
umas 30 estações de rádio
tocam todas as mesmas músicas
nenhuma que eu queira ouvir
algumas chegam a irritar
Há milhões de blogs
que me interessariam
em qualquer outra noite
mas que hoje me trazem fadiga
nada é capaz de me livrar deste tédio
nada me desafoga
nada me tira este medo de não suportar mais
É tão comum que se escreva sobre o tédio
mesmo que ninguém me explique bem
de que buraco ele vem
Sente-se assim sem sentido
sem nada, dá até vontade de chorar
Mas chorar porquê?
Que choro é este?
Podia amar loucamente
e suar todas estas lágrimas
até colar com o mesmo sal
meu corpo e o seu
imundos, imersos
Podia urinar todas as impurezas dos meus rins
despejar estes mals espíritos que me prendem
Às vezes faz-se necessário
desrespeitar-se
sentir-se culpado
sentir-se maldito
Às vezes tudo o que se quer é um vício
destes de que não se enjôa
como se enjôa de tudo que não é vício
Mas a televisão...
O rádio então...
Estes blogs...
Porquê, meu Deus?
Fizeste um filho tão insatisfeito
tão inadequado, tão impressionista
Porquê fizeste-me usar a segunda pessoa
Se por onde eu olhe, há só minhas coisas
Só eu, para mim, de mim?
Quem me deu esta obrigação
Quem é o maldito animal
que me fez me prender
a tanta coisa que
é tão pouco para mim
Quem me tapa os olhos
Quem não me deixa ver outra alternativa
Não me deixa ir pelo atalho
que me perde
Quem sabe assim
a tarde de domingo
não começe no sábado
Quem sabe a tarde de domingo
não seja uma pequena culpa
de não saber bem como tudo
foi tão insano no sábado
Quem sabe, sentindo assim
Não nasca em mim
um altruísmo contente
uma idéia feliz que disfaça
este depressivo egoísmo
A beleza
Estes dias estive pensando em como ser elegante, chique, sofisticado é ser conservador. Já me fizeram um elogio desta natureza, e eu, descostumado a elogios, procurei ressalvas.
A beleza visual consolidada, aquela de senso comum, desprovida de qualquer afeição particular, é a mais conservadora das hipocrisias. Quando se é belo, elegante, significa que configura um padrão consagrado desta atitude que não necessariamente traduzem a essência de quem o é. O nosso esforço em atender os padrões estéticos comuns suprime a nossa identidade.
Isto não é ruim, já que estamos o tempo inteiro nos disfarçando até de nós mesmos com objetivos variados. Não é ruim na medida em que não se torna um sofrimento, uma necessidade que condiciona nosso prazer.
A beleza pode ser vista de muitas formas, já que é vista por vários olhos, só que uma turma decide o que é um padrão que distingue uma beleza e implanta isto nas nossas cabeças. Superficialmente, julgamos a mesma beleza bonita, mas intimamente, há várias belezas que nos tornam amigos de pessoas feias se comparadas a este padrão.
Ainda bem, porque senão eu seria ainda mais solitário!
No final das contas, o conservador, ou seja, o elegante, ou seja, a beleza padrão é o que há de mais chato num ser humano. Procurar imperfeições é o que nos apaixona.
o blog: ressalvas
A intenção deste blog é algo que é um mistério tão profundo quanto a força que me motiva a respirar.
Farei dele o que me der vontade. Escreverei o que quizer e publicarei o que me fizer bem.
Há um ambiente em que eu dito as regras, aqui. E as regras são: ... ... ... ... ... ....
Farei dele o que me der vontade. Escreverei o que quizer e publicarei o que me fizer bem.
Há um ambiente em que eu dito as regras, aqui. E as regras são: ... ... ... ... ... ....
o blog
Vejo em outros blogs a cópia fidedgna de notas dos jornais que são publicadas na internet seguida de comentários do autor e há duas razões para que eu não faça o mesmo:
- Uma cópia de uma notícia é uma versão do fato, seriam necessárias várias versões para que eu formasse uma opinião que merecesse ser propagada;
- Este blog não destina-se a apresentar dados, salvo para motivar a discussão destes, a intenção é apresentar as minhas reflexões individuais, afim de que sejam sobrepostas, contrapostas ou concordadas para amenizar a minha necessidade de entender e ser entendido.
- Uma cópia de uma notícia é uma versão do fato, seriam necessárias várias versões para que eu formasse uma opinião que merecesse ser propagada;
- Este blog não destina-se a apresentar dados, salvo para motivar a discussão destes, a intenção é apresentar as minhas reflexões individuais, afim de que sejam sobrepostas, contrapostas ou concordadas para amenizar a minha necessidade de entender e ser entendido.
Cénário da metrópole
Recentemente, as mansões situadas no bairro do Morumbi, na zona sul de São Paulo, tem sido vítima de invasões de bandidos que fazem a família e os empregados reféns, praticando agressõem e chantagens contra estes.
O primeiro fato a ser considerado é o bairro, moradia dos cidadão mais endinheirados da cidade de São Paulo, construído em mansões com sistema de segurança sofisticados e contrastado por uma favela próxima, a favela Paraisópolis. Esta favela, cujo nome retoma a mente imagens bem diferentes deste tipo de aglomeração urbana, está situada no "coração" do bairro, portanto, dela se tem a imagem dos terrenos mais bem contruídos do local. A partir destes fatos, pode-se concluir que o bairro do Morumbi tem a concentração de renda maior que a concentração de problemas de habitar a favela do Paraisópolis.
Em recente entrevista, um morador do local dizia-se indgnado, o que pôde ser constatado pela repetição da frase "isto é um absurdo!" e pela espuma que saía da boca quando dizia que, embora sejam pagos milhões de reais em impostos, a prefeitura não consegue dar conta da segurança do local. O autor do comentário é designer e aparenta uns 30 anos de idade, jovem, portanto. Ainda sobre a questão de arrecadação de impostos, o morador da mansão mais recentemente invadida, de um ex-deputado estadual, proferiu quase que exatamente a mesma crítica ao governo, em palavras quase ininteligíveis para a audiência característica do horário.
Sobre os fatos acima, faz-se necessária a reflexão. Primeiro, a forma como foram apresentados: os textos são de minha autoria e eu utilizei alguns recursos retóricos para tornar tendenciosa a informação extraída dele. Os comentários a cerca do comportamento do designer e a necessidade de especificar a "ex-carreira pública" do outro morador cria uma imagem não muito simpática destes moradores. E assim, explicando de forma universalmente compreensível, quero dizer que neste bairro moram alguns dos homens mais ricos do país, e por aqui ressôa o comentário de que ninguém enriquece sendo honesto, ou seja, pagando os impostos. Então, será que a fonte de toda esta concentração de renda é uma atividade que justifique a segurança reforçada no local? Sendo ou não, há outro dito popular que incentiva as recentes ocorrências: "ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão". A imagem que o cidadão tem destes homens que de um instante para o outro conseguiram um acúmulo de capital inatingível com a contribuição assídua de impostos, é de simples ladrão, como estes que vêm invadindo as mansões. Em minha propria opinião, nem a primeira, nem a segunda idéia popular justifica o roubo e o terror a que as famílias são submetidas, sendo as idéias verdadeiras ou não.
Em contraponto, nenhum muro de três metros, nenhum sistema de segurança e nenhum pagamento de imposto justifica proteger os cidadãos do Morumbi dos seus semelhantes menos ricos. Nada pode satisfatoriamente convencer do funcionamento correto da maquina pública quando se observa com cuidado o contraste Paraisópolis X Morumbi. A solução para os moradores do bairro é uma ação pública efetiva que lhes propicie a segurança contra aqueles que invadem suas mansões, mas não demontram nenhuma preocupação em dar-lhes condição e acesso aos mesmos luxos que fazem de suas casas capas de revistas de arquitetura, situadas num meio onde a noção de harmonia é tão falha. Nenhuma idéia de prover aos demais cidadãos a educação e possibilidade de enxergar além do "eu quero o que ele tem", nem mesmo o ex-deputado tem esta preocupação, do que nasce a dúvida em relação aos valores que embasam toda a sociedade metropolitana, que rica ou pobre, está suscetível ao terror dos seus iguais. Este é o motivo da minha escrita tendenciosa.
Os donos das mansões do Morumbi tem condições de pagar a própria segurança a parte do que pode fazer o Estado, mas não tem esta obrigação. Provavelmente, nada lhes veio a mão que não lhes custasse o uso mínimo das faculdades mentais. Eles, como um catador de lixo, mas vistos com a dignidade que todo ofício merece, conquistaram suas carreiras, seu conforto, seus satus e sua riqueza. Exceto pela fraqueza dos valores, não há mal nenhum ostentar suas posses com o que há de melhor. São seus donos por direito, até que se prove o oposto.
Os moradores de Paraisópolis, no entanto, são também vítimas e simultaneamente agravantes da falta de planejamento. Não têm o mínimo de condição que também têm direito para lhes dar acesso às mordomias da vida moderna e vêem esta chance tirando o que é dos outros. Aqui, não há apenas um desvio da conduta mais exemplar, há um crime. A lei que protege os cidadãos encrimina os infratores, por mais complexos e antigos que sejam seus motivos para estar ali, ela deveria assegurar a segurança dos donos dos imóveis. Com isto, quem é humilhado e levado ao convívio com outros desgraçados como ele é o pobre, agora com o acesso ainda mais restrito e sem noção de dignidade. Morrem uns e outros moradores das masões, dos poucos que nascem, enquanto nas favelas nascem aos montes, e lá também morrem e proliferam a indiganção, seguida da naturalidade e do hábito, de apossar-se do que não é seu por direito.
De forma natural, também, recebem os donos das mansões os ladrões. Já calculam o investimento necessário para blindar todos os metros e se protegerem das invasões antes de adquirir o imóvel. Sabem de todo o problema social, têm plena noção de que seu poder aquisitivo pode incomodar as pessoas que não o tem e já se previnem contra os potenciais problemas, de forma minunciosamente planejada.
Para coroar a situação, não por nenhum meio de comunicação específico, mas por conhecido meus, ouvi alguns Policiais Militares dizerem "Não se deve roubar os pobres, eles já não têm nada, os que devem ser roubados são os ricos". Percebe-se aí a consolidação das idéias populares apresentadas, que sôa como um "está com desejo sexual, extupra mas não mata". Homens que têm por obrigação, por formação e por definição fazer cumprir a lei, ser justos e cegos como a ação que os rege, propagam este tipo de pensamento. Não há um nível específico em que se possa identiificar a nascente da falha ideológica da cidade. Ela se espalha por todos os lados, como se fosse instintiva de qualquer ser humano, rico, pobre, inteligente, retardado. Todos buscam conforto e proteção, mas o incomum é esta proteção ser contra outro filho do mesmo Adão, do mesmo Deus, do mesmo macaco que aprendeu a viver em grupo para melhorar a vida, e agora disputa com grupo as condições mínimas de sobrevivência.
Os políticos não provêem a segurança e frequentemente são corruptos, um Poder dilacerado. A polícia não provê a segurança por ideais fracos, outro Poder dilacerado. A camada com mais acesso da sociedade provê a segurança que lhes interessa, outro Poder dilacerado. A camada inferior arranca o que é dos outros como animais famintos, condições a que foram condenados, por um ou outro motivo, e que não foi dada importãncia, mas que poder estes têm?
Não quero que fique a impressão de uma visão deturpada das camadas sociais que interagem na cidade. A parte das expeculações sobre as fontes do acúmulo de capital dos mais ricos e do mais marxista que esta visão tenha dado impressão de ser (é impressão apenas), eu simplesmente intento direcionar responsabilidade de ação aos que realmente têm condições de solucionar o problema, por poderem enxergá-lo e manipulá-lo. . Não proponho uma divisão de renda igualitária, que implique necessariamente nas perdas dos que a tem concentrada. Proponho que já que interagimos de forma competitiva, que sejam dadas as condições minimas de sobrevivência e acesso a todos para evitar a disseminação do terror e que esta competição justifique a nossa capacidade de raciocínio.
Bertold Brecht escreveu a respeito da negação de Galileu: "Eu te digo, aquele que não conhece a verdade é simplesmente um ignorante, mas aquele que a conhece e diz que é mentira, este é um criminoso". Isto não isenta os mais pobres da culpa pelos seus atos, torna-nos todos criminosos, infratores da ética e da cidadania que nós mesmos criamos.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
James and Joss, James, prince and michael
Elvis, James, Jerry, Michael e... Who will make you shake you ass?
http://www.youtube.com/watch?v=1CoxNzOOoQU
O link porque não pode incorporar
Reparem que o comportamento do Prince é completamente estranho, chega a ofuscar o jovem Michael, chega a ser mais bizarro!
Neste, dá para comparar James, Michael e Prince: é óbvio que James inventou, Prince aperfeiçoou, mas o Michael Jackson, meu amigo, tá pra nescer igual!
Digredi totalmente nos links!
She wolf!
Nunca achei que a Shakira cantasse lá estas coisas;
Nem sequer a julgava uma mulher espetacularmente bonita;
No em TANTO, The Wolf é uma das performances mais originais e sensuais que eu já assisti, e originalidade eu sempre vi na Shakira.
Deve ter estourado nas paradas, apesar de (na minha opinião) a música não ser muito contagiante;
Shakira, a partir de hoje, figura na minha lista de desejos inconcebíveis, já adiquirindo espaço no top 10, embora, a ela, isto não signifique nada, provavelmente.
A Madonna que se cuide, pois perde em beleza, performance e idade! Além disso, corre nas veias da Loba um sangue vira-lata insaciável da América Latina.
Imbatível!
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Ensainho sobre Saramago
Começa com ir ao oftamologiasta e ler o Ensaio sobre a Cegueira enquanto espera. Alguns durmiam, quase todos bocejavam enquanto a recepcionista chamava cada nome da lista para efetuar o cadastro. As mães chegavam com as crianças e as deixava livres para limpar que limpassem os sapatos nas poltronas de espera, passar as folhas da revista de forma raivosa e gritar quando a moça de branco aproximava-se com o colírio.
Estes fatos me tiraram a atenção da leitura, mas o que mais me distraiu foi a senhora sentada a minha frente. Simples, idosa e dependente da filha. Todas estas características me pareceram assustadoras, se eu estivesse em seu lugar. Ela via que eu lia o livro e devorava suas páginas como se predicessem meu futuro. Mas não estava certo se ela sabia ler o título do livro. Não sei se sabia a importância de José Saramago para o mundo. Que o livro tornara-se um mérito e o mérito tornara-se filme que passou ao seu adaptador uma parcela do mérito que é estar envolvido na obra.
Que mérito afinal podia aturdir aquela senhora? Talvez não soubesse ler e nada importava a ela se eu me interessava por literatura portuguesa moderna ou gibis. Que me valia o tênis que absorve impacto na coluna da marca alemã, meu futuro seria como o dela, de bengala a não aguentar o corpo. Ela, aos vinte anos, talvez nem a sentisse doer como eu sinto.
Eu faço faculdade e estudo muito para garantir meu conforto e acesso. Trabalho, também, num serviço tão burocrático que de forma direta ou indireta contribuo para que aquela senhora dependa da filha. Mas que isto importaria aquela senhora? Dei-lhe um sorriso e ela tocou meu joelho me dizendo para eu aproveitar os dentes com que eu nasci. Se eu a tivesse dito quão complexas são minhas metas e quanto eu me esforço e me privo para atingí-los, ela me mostraria toda sua bangueleza, numa risada sarrista.
Talvez não soubesse ler, não dominasse o conhecimento formal, não conhecesse o conforto e a tecnologia e adorasse a vida como eu nunca fui capaz. Enxergasse de trás das cataratas, muito mais do que eu, detras das minhas lentes High light, jamais pude ver. O quão bom marido um homem pode ser, quão bom filho, quão amigo, quantas doces histórias podemos trocar sem se sentir melhor por isto ou aquilo. Aquela senhora podia enxergar nos seres humanos a humanidade, despida de tudo que criou para o bem e para o mal. Certamente temia a Deus, Ele nos livra de muitas dúvidas e fraquezas.
Ela era como eu, sabia que perdia gradativamente a visão, que certamente dependeria do auxílio de alguém, cujo amor trouxe o fardo de cuidar daquela senhora, como se pudesse ser mais dígno. Eu procurava nos livros, na ciência e na arte, modos de compensar os meus limites e desta forma criar sobre mim uma aura de admiração.
A perspectiva de me tornar aquela senhora, a cada linha do livro, a cada reflexão, se tornava mais aceitável. Ela, na metade final da vida, queria ver os dentes dos netos, a sorrir para suas rugas. Neste sorriso, não há uma só palavra, nenhuma letra, nenhuma ciência ou arte, não há nada de grandioso, de cheio de mérito, de Saramago. Há uma brancura, uma brancura plena que nos deixa a mostra tudo o que somos, uma cegueira branca, como aquela de Saramago, que tornei a ler, com o livro fechado.
Pantera cor de rosa (pink panther)
Lembro-me apenas uma vez em toda a minha infância de ser reexibido o desenho da Pantera cor-de-rosa, que eu odiei, achei chato e mal feito.
Não tinha maturidade para perceber as sutilezas da série, que deve ser feita para adultos. É comparada aos simpsons em nível de inteligência, mas com o adicional de ser mudo e muito mais sutil. Uma simplicidade no ponto dos cartoons.
Acho fantástico o uso das perspectivas enganadoras e dos fianis surpreendentes... e do jazz também!
Notem o Pelvis Presley: pelvis integra a genitália feminina. Genial!
Não tinha maturidade para perceber as sutilezas da série, que deve ser feita para adultos. É comparada aos simpsons em nível de inteligência, mas com o adicional de ser mudo e muito mais sutil. Uma simplicidade no ponto dos cartoons.
Acho fantástico o uso das perspectivas enganadoras e dos fianis surpreendentes... e do jazz também!
Notem o Pelvis Presley: pelvis integra a genitália feminina. Genial!
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Entre o cérebro e a boca calada.
Se é assim que você prefere
Se você acha que está tudo bem
Só porque eu disse que está tudo bem
Então tudo bem
Você pelo menos confia em mim
Mas podia de repente
criar um herói
destes que vencem os titãs
Um quase semi-deus
Podia tratar do bicho
como se fosse o melhor
o selecionado da espécie
o mais dos mais que já existiram
Podia assim de um jeito carinhoso
Ser o conforto do mais habilidoso
Do mais gentil e mais esperto
dos homens que vivem a vida
Podia fazer feitiçaria
Que deixassem o signo de sua época
lhe fazer rainha de toda a eternidade
Podia andar do lado
de dentro, de fora
em cima, em baixo
oblícuo, transversal
Podia violar as leis
de um jeito tão ético
que todo amor sincero
se cansa de explicar
Podia simplesmente
num rabo de olhar
deixar nascer um sorriso
que eu censuraria com a língua
Mas se não quer
Tudo bem
Não sei porque você confia tanto em mim
Macro-organismo
Vivi em março de 2007 uma situação que marcou a minha vida. Não por ser negativa, nem por ser positiva, nem por ser neutra, nem por nada.
O sono me limita descrições mais detalhistas, o fato é que eu, nerd, esperava "anciosamente" o momento de fazer uma prova de Relatividade e Física Quântica, para qual eu havia estudado e estava um pouco preparadado, e muito nervoso. Começa uma chuva que se tem noção de ser grande, rápida e única, e por esta última qualidade dou Graças a Deus!
Depois de uns 30 minutos de xoxóxoxóxoxó, truuuumm, tééééit, a água começou a invadir o páteo da Universidade, num marrom marrom, marrom mesmo, da cor marrom. em 3 minutos já subia as minhas canelas que já tinham sido abrigadas numa mesa, prevendo a inundação. Os que, diferente de mim, decidiram permanecer na mesa, tiveram de fazer dela uma balsa, e lá ficaram até a água baixar (às 3h da manhã). Eu e uns colegas mais espertos que eu inclusive, subimos sentido aos laboratórios, onde lavamos os pés. Era engraçado ver-me com os pés no tanque onde eram descartados tantas soluções que contribuiam para a evuloção científica da Universidade. Eu, ao lavar meus pés, me sentia como se o fizesse em água benta.
Entre carros, casas, computadores e outras coisas destruídas, consegui uma carona duma amiga duma amiga dum amigo meu, que me levou a estação de trem, que ficava do outro lado da enchente e ela parecia um shopping, apesar de ser 23h45min. Uma multidão cansada como eu, mas falante e conformada, aguardava o trem que reduzira 1/6 do seu percurso por causa da chuva. Por volta de 1h da manhã estava eu de volta ao meu nunca tão desejado lar.
A cidade parou, e só tragédias a faz parar. Não é que não precise nunca parar, é claro que sim, mas não pode. Não pode fazer um reparo, que para tudo, vira um transtorno, pessoas morrem, ferem-se e tudo em volta funciona mal. Para não parar, os bueiros continuam tapados, o povo ainda joga lixo na rua, não há escoamento e no fim enche e pára. A chuva não escolhe o dia de chover, nem o quanto chove em um dia. Mas é ruim que sempre que "calha" de chover muitos cidadãos urbanos perdem seus lares, seus pertences ou sua vida. Obrigatoriamente, tem que parar, mas assim que é possível, com o mesmíssimo frenesi aceso nas mentes, ela volta, desviando-se da imagem do que foi o dia anterior, pondo de lado o problema, a metrópole descontrolada volta.
Hoje, as águas não foram de março, e isto não foi motivo para que não deixassem seu rastro de destruição pela avenida. O cheiro de merda ainda flui no ar, os carros continuam presos e encharcados, as moléstias ainda não deram sinal de existência, não se descansou o stress da possibilidade de ter que dormir ali, e daqui a pouco estaremos todos de volta: o médico plantonista, o operador de máquinas, o executivo, o professor... Todos metropolitanos inspirados ou inspiradores, causas ou consequências, todos vivendo e tornando vivo o espírito inquieto da cidade que não pára porque não pode, não pode porque não quer, não quer porque não deixam, não deixam porque não pode parar.
Quando se está com sono
Quando você tem um sono gigante, mas não pode dormir fora do horário para não estragar o seu sono noturno, você "bloga"?
Eis a minha situação: há 30 minutos atrás tinha pensado em escrever 3 ou 4 textos, mas subitamente fui invadido por um cansaço mental em uma dor na coluna que me dão muita vontade de dormir.
Há tanto o que fazer, que só pode ser feito agora, mas que não tenho um pingo de criatividade.
Estou escrevendo estas palavras em tempo real... ou seria virtual? O que é virtual? será que é um sonho? Será que de certa forma tudo que estou fazendo é sonhar acordado? Não importa, o fato é que isso me mantém cansado, dolorido e acordado, mesmo que tudo isto não tenha nexo a quem possa me ler. Poderia fazer tantas coisas que me demandariam raciocínio ou atividade física, mas meus dedos são os únicos rebeldes da minha preguiça.
Sou, infelismente, um preguiçoso: acordo às 7h, trabalho até às 17h e faço faculdade das 19h às 23h. Nos fins de semana, estudo. nos minutos livres escrevo. Sou um grande preguiçoso, ainda assim, pois já devia ter me acostumado com a dor nas costas que sinto há quatro anos, com as férias tediosas e curtas que não sei curtir, com o sono que me impede de resolver um exercício de mecânica dos sólidos, que bate sempre no mesmo horário, não importa a circunstância, mas dependendo dela, eu nem sinto, apesar de saber que ele bate. Mas acho que ainda não deixei claro o quão preguiçoso eu sou. Poderia ligar a TV, mas pegaria no sono na primeira vinheta. Poderia descer e comer alguma coisa, mas não estou com fome. Poderia masturber-me, mas me dá ódio pensar em não ter quem faça isto por mim, tudo por causa da minha prequiça.
Seria preguiça apenas querer que alguém me masturbe?
Afinal, tocar neste assunto me deixa gradativamente menos preguiçoso.
Cheguei até a esquecer que as costas me doem, mas lembrei-me agora, por tê-lo dito.
Lembrei-me de algo relacionado a isto, mas me fugiu.
Posso contemplar a mecânica despretenciosa dos meus dedos que registram o vazio do meu cérebro que pela primeira vez não se preocupa com a grafia certa das palavras. Será que não se preocupa? Se não se preocupasse não associaria imediatamente a despretenção da ação dos dedos a grafia correta das palavras.
O fato é que mesmo em seu letargo, meu cérebro é domado a parecer gentil a quem por ele nem se importa, só quer que acorde as 7h e permaneça acordado até as 23h, raciocinando, agindo, memorizando como se fosse seu desejo. Mas as costas doem, a ao doerem confrontam a luta do cérebro com a vontade deste, de se entregar ao delíquo sem culpa. E pelo letargo ou pelo delíquo, já não é mais do cérebro a preguiça imperatriz, é do conflito que até as 23h não o deixará dormir.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Canto a preguiça
Agora eu voltei correndo
para continuar com ela
o que jamais devia ter parado
Acordar, às vezes, é um trauma
que se sente nos cinco minutos
em que nem as pápebras, nem a boca
nem as pernas obedecem
Me arrasto maldizendo o trabalho
a sociedade capitalista
o relógio pontualíssimo
e o cínico que me desejou bom dia
Mas que bom é voltar à cama
e sentir nela as linhas do seu corpo
encaixadas como se fosse medida
e mesmo fria está lá, acolhedora
mesmo bamba, está firme
Que bom ter uma cama onde deitar
Minha cama, meu ninho
Minha cama não é especial
por ser só minha
tampouco por ser cama
é especial por ser minha cama
Por ser a única cuja existência
configura o meu conforto
que drena o meu pranto, meu suor
a minha saliva e meu sémen
que em qualquer circunstância esta ali
aberta a mim, esperando meu descanso
juntando seu acalanto
para me tornar um novo homem
Daqui uns anos, vai ser outra cama
igualmente minha, mas não somente
Vai ser finalmente o berço do céu
e da penumbra doce que embala o sono
dos gemidos loucos que embalam o amor
E esta de hoje, com tanta gratidão
pode ser queimada, destruída
doada, reutilizada
tanto faz...
nunca fora minha sozinha
Nada é meu hoje
a não ser a minha cama.
Diabretes
O meu trabalho é pelas crianças, mas não trabalho diretamente com elas, e neste dias pude dar Graças a Deus por isto.
Há várias situações cômicas em que a naturalidade das crianças nos metem, mas que só somos capazes de notar quando a onda de raiva recua e leva a vergonha que estes pequenos peraltas nos causam muitas vezes.
Na minha corriqueira subida à sala de aula de uma professora da escola onde eu trabalho, bati na porta por quase um minuto, mas ao contemplar a paisagem interna pelo vidro, decidi entrar e desperdiçar um "com licença" inaldível. Quando, entre tantos blocos coloridos, carros de brinquedo, bonecas, empurrões e giz espalhados pelo chão eu finalmente chego ao ouvido da professora, digo-lhe o nome de quem eu quero, e então seu olhar passa a procurá-lo entre 30 crianças que parecem 300 ali juntas.
Ela se aproxima do local de maior aglomeração onde um rapazinho bate com uma peça de isopor na cabeça de outro que lhe chuta as canelas o deixando em prantos. Sem argumentos, a professora diz "não faça isto!". Uma menininha que sozinha parecia tão bem comportada, ali fazia de um balde de plástico um cavalo e se arrastava sobre ele pela sala deixando um rastro de plástico raspado pelo caminho. Com um e outro dentes faltando, ela me disse "oi!". Supuz que fosse um "oi" já que sua voz se misturava ao ronco dos motores imaginários que rugiam pelos metros quadrados da sala, tornando qualquer Marginal Tietê um canto dos pássaros.
Outro rapaz, com um carrinho de boneca e uma boneca, bricava de uma maneira no mínimo inusitada: as rodas do carrinho passavam sobre o pescoço da boneca que de bege passou a marrom, por tanto ser arrastada no chão da sala, e ele dizia: "menina mal-criada!".
Enfim, percebo que a professora se diatraía com um outro rapaz, não o que eu havia pedido, que de alguma forma enfiou a cabeça por entre as grades da prateleira de um armário e berrava por não conseguir tirá-la. Só vestia um dos tênis porque o outro fora arrancado por um amigo que tentou inutimente salvá-lo puxando-o pelos pés. A professora dizia: "Mas como você conseguiu se enfiar aí?", então olhou para mim como se eu pudesse salvá-la, e o aluno que eu havia solicitado me veio aos braços, tomei a sua mão e impiedosamente deixei a professora, que conseguiu tirar a cabeça do moleque de onde ele havia enfiado.
Transfigurado, entreguei-o a mãe que veio buscá-lo antes do horário para levá-lo ao médico. A mãe já tinha no rosto a impaciência pela minha demora, e a criança adquiriu uma expressão angelical e doce ao ver a mãe. Mal sabe ela...
Quando retornei ao meu posto de trabalho, uma menina mais velha perguntou-me "Porquê vocês não dão a comida podre aos mendigos?". Assustado, eu perguntei porque eu haveria de fazê-lo, já que não tinha nada contra os mendigos. Ela referia-se à comida que sobra da merenda e fatalmente é jogada no lixo, sendo que algumas pessoas morrem de fome na rua. A intenção era boa, mas o modo de expressar-se precisava de intervenções. Eu a expliquei as questões burocráticas que envolvem a alimentação de uma forma siimplificada e ela aparentou compreender, infelismente, e a conformar-se com a comida no lixo, não no estômago de quem tem fome. Saltitante e correndo, ela voltou á sala, justamente do jeito que eu acabara de ordenar que não fizesse.
Passado alguns segundos, eu ri sozinho, sem saber bem de que parte de tudo que eu presenciei exatamente me parecia engraçado. Talvez pela nossa ingenuidade e espontaneidade nos fazer ridículos, e as delas as fazer crianças.
Um sucesso cômico!
Eu gosto muito do que foi a banda inglesa Queen na época do Freddy Mercury. Há várias canções que eu poderia citar como insígnias da banda, só que, pelo contexto divertido, eu escolhi 2 vídeos referentes ao hit "I want to break free":
A criatividade sem compromisso
Achei ingênua, jocosa e pricipalmente criativa a paródio que o Casseta & Planeta fez da intro da novela das 8h...
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