quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Sem compromisso


Ao dobrar a esquina me deparei com um pé de ipê. Era o mais lindo e florecido pé que pude ver em toda a minha vida, e estava ali ao dobrar a esquina.

Seus galhos retorcidos e quase sem folhas subiam a uma altura que permitia a quem o plantou observá-lo por todos os anos em que viesse a extender sobre o chão da rua seu tapete amarelo. Simples, sem ostentações ou raridades, ao alcance de minhas mãos que não quizeram tocá-lo, bastava saber que coexistíamos no mesmo espaço, que complementávamos a existência mútua. Ele estava ali para ser belo, e eu para ser muitas coisas. Passariam invernos e outonos sem que ninguém notasse sua singularidade, mas na primavera, o raio tingido de sol que faria em volta de si, até dos mais desatentos, teria atenção.

Um cinza não como uma tempestade, mas como o piche que tapa o nariz da terra, é soberano naquela esquina, até que no quadrado em que finca suas raízes o pé de ipê contrasta com o cinza o amarelo, que não é o das faixas que limitam, mas das flores que inspiram.

Sem compromisso, como aquelas flores de ipê espalhadas pela esquina, deixo aqui este textinho do meu prazer em ainda poder ver o ipê amarelo sobre o asfalto cinza na esquina da minha casa.

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