Há mais de cem canais
Nenhuma programação digna de atenção
nenhuma distração
mais de duzentos livros
Complexos, densos e chatos
como não devem ser as noites de sábado
umas 30 estações de rádio
tocam todas as mesmas músicas
nenhuma que eu queira ouvir
algumas chegam a irritar
Há milhões de blogs
que me interessariam
em qualquer outra noite
mas que hoje me trazem fadiga
nada é capaz de me livrar deste tédio
nada me desafoga
nada me tira este medo de não suportar mais
É tão comum que se escreva sobre o tédio
mesmo que ninguém me explique bem
de que buraco ele vem
Sente-se assim sem sentido
sem nada, dá até vontade de chorar
Mas chorar porquê?
Que choro é este?
Podia amar loucamente
e suar todas estas lágrimas
até colar com o mesmo sal
meu corpo e o seu
imundos, imersos
Podia urinar todas as impurezas dos meus rins
despejar estes mals espíritos que me prendem
Às vezes faz-se necessário
desrespeitar-se
sentir-se culpado
sentir-se maldito
Às vezes tudo o que se quer é um vício
destes de que não se enjôa
como se enjôa de tudo que não é vício
Mas a televisão...
O rádio então...
Estes blogs...
Porquê, meu Deus?
Fizeste um filho tão insatisfeito
tão inadequado, tão impressionista
Porquê fizeste-me usar a segunda pessoa
Se por onde eu olhe, há só minhas coisas
Só eu, para mim, de mim?
Quem me deu esta obrigação
Quem é o maldito animal
que me fez me prender
a tanta coisa que
é tão pouco para mim
Quem me tapa os olhos
Quem não me deixa ver outra alternativa
Não me deixa ir pelo atalho
que me perde
Quem sabe assim
a tarde de domingo
não começe no sábado
Quem sabe a tarde de domingo
não seja uma pequena culpa
de não saber bem como tudo
foi tão insano no sábado
Quem sabe, sentindo assim
Não nasca em mim
um altruísmo contente
uma idéia feliz que disfaça
este depressivo egoísmo
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