sábado, 19 de setembro de 2009

Cénário da metrópole


Recentemente, as mansões situadas no bairro do Morumbi, na zona sul de São Paulo, tem sido vítima de invasões de bandidos que fazem a família e os empregados reféns, praticando agressõem e chantagens contra estes.
O primeiro fato a ser considerado é o bairro, moradia dos cidadão mais endinheirados da cidade de São Paulo, construído em mansões com sistema de segurança sofisticados e contrastado por uma favela próxima, a favela Paraisópolis. Esta favela, cujo nome retoma a mente imagens bem diferentes deste tipo de aglomeração urbana, está situada no "coração" do bairro, portanto, dela se tem a imagem dos terrenos mais bem contruídos do local. A partir destes fatos, pode-se concluir que o bairro do Morumbi tem a concentração de renda maior que a concentração de problemas de habitar a favela do Paraisópolis.
Em recente entrevista, um morador do local dizia-se indgnado, o que pôde ser constatado pela repetição da frase "isto é um absurdo!" e pela espuma que saía da boca quando dizia que, embora sejam pagos milhões de reais em impostos, a prefeitura não consegue dar conta da segurança do local. O autor do comentário é designer e aparenta uns 30 anos de idade, jovem, portanto. Ainda sobre a questão de arrecadação de impostos, o morador da mansão mais recentemente invadida, de um ex-deputado estadual, proferiu quase que exatamente a mesma crítica ao governo, em palavras quase ininteligíveis para a audiência característica do horário.
Sobre os fatos acima, faz-se necessária a reflexão. Primeiro, a forma como foram apresentados: os textos são de minha autoria e eu utilizei alguns recursos retóricos para tornar tendenciosa a informação extraída dele. Os comentários a cerca do comportamento do designer e a necessidade de especificar a "ex-carreira pública" do outro morador cria uma imagem não muito simpática destes moradores. E assim, explicando de forma universalmente compreensível, quero dizer que neste bairro moram alguns dos homens mais ricos do país, e por aqui ressôa o comentário de que ninguém enriquece sendo honesto, ou seja, pagando os impostos. Então, será que a fonte de toda esta concentração de renda é uma atividade que justifique a segurança reforçada no local? Sendo ou não, há outro dito popular que incentiva as recentes ocorrências: "ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão". A imagem que o cidadão tem destes homens que de um instante para o outro conseguiram um acúmulo de capital inatingível com a contribuição assídua de impostos, é de simples ladrão, como estes que vêm invadindo as mansões. Em minha propria opinião, nem a primeira, nem a segunda idéia popular justifica o roubo e o terror a que as famílias são submetidas, sendo as idéias verdadeiras ou não.
Em contraponto, nenhum muro de três metros, nenhum sistema de segurança e nenhum pagamento de imposto justifica proteger os cidadãos do Morumbi dos seus semelhantes menos ricos. Nada pode satisfatoriamente convencer do funcionamento correto da maquina pública quando se observa com cuidado o contraste Paraisópolis X Morumbi. A solução para os moradores do bairro é uma ação pública efetiva que lhes propicie a segurança contra aqueles que invadem suas mansões, mas não demontram nenhuma preocupação em dar-lhes condição e acesso aos mesmos luxos que fazem de suas casas capas de revistas de arquitetura, situadas num meio onde a noção de harmonia é tão falha. Nenhuma idéia de prover aos demais cidadãos a educação e possibilidade de enxergar além do "eu quero o que ele tem", nem mesmo o ex-deputado tem esta preocupação, do que nasce a dúvida em relação aos valores que embasam toda a sociedade metropolitana, que rica ou pobre, está suscetível ao terror dos seus iguais. Este é o motivo da minha escrita tendenciosa.
Os donos das mansões do Morumbi tem condições de pagar a própria segurança a parte do que pode fazer o Estado, mas não tem esta obrigação. Provavelmente, nada lhes veio a mão que não lhes custasse o uso mínimo das faculdades mentais. Eles, como um catador de lixo, mas vistos com a dignidade que todo ofício merece, conquistaram suas carreiras, seu conforto, seus satus e sua riqueza. Exceto pela fraqueza dos valores, não há mal nenhum ostentar suas posses com o que há de melhor. São seus donos por direito, até que se prove o oposto.
Os moradores de Paraisópolis, no entanto, são também vítimas e simultaneamente agravantes da falta de planejamento. Não têm o mínimo de condição que também têm direito para lhes dar acesso às mordomias da vida moderna e vêem esta chance tirando o que é dos outros. Aqui, não há apenas um desvio da conduta mais exemplar, há um crime. A lei que protege os cidadãos encrimina os infratores, por mais complexos e antigos que sejam seus motivos para estar ali, ela deveria assegurar a segurança dos donos dos imóveis. Com isto, quem é humilhado e levado ao convívio com outros desgraçados como ele é o pobre, agora com o acesso ainda mais restrito e sem noção de dignidade. Morrem uns e outros moradores das masões, dos poucos que nascem, enquanto nas favelas nascem aos montes, e lá também morrem e proliferam a indiganção, seguida da naturalidade e do hábito, de apossar-se do que não é seu por direito.
De forma natural, também, recebem os donos das mansões os ladrões. Já calculam o investimento necessário para blindar todos os metros e se protegerem das invasões antes de adquirir o imóvel. Sabem de todo o problema social, têm plena noção de que seu poder aquisitivo pode incomodar as pessoas que não o tem e já se previnem contra os potenciais problemas, de forma minunciosamente planejada.
Para coroar a situação, não por nenhum meio de comunicação específico, mas por conhecido meus, ouvi alguns Policiais Militares dizerem "Não se deve roubar os pobres, eles já não têm nada, os que devem ser roubados são os ricos". Percebe-se aí a consolidação das idéias populares apresentadas, que sôa como um "está com desejo sexual, extupra mas não mata". Homens que têm por obrigação, por formação e por definição fazer cumprir a lei, ser justos e cegos como a ação que os rege, propagam este tipo de pensamento. Não há um nível específico em que se possa identiificar a nascente da falha ideológica da cidade. Ela se espalha por todos os lados, como se fosse instintiva de qualquer ser humano, rico, pobre, inteligente, retardado. Todos buscam conforto e proteção, mas o incomum é esta proteção ser contra outro filho do mesmo Adão, do mesmo Deus, do mesmo macaco que aprendeu a viver em grupo para melhorar a vida, e agora disputa com grupo as condições mínimas de sobrevivência.
Os políticos não provêem a segurança e frequentemente são corruptos, um Poder dilacerado. A polícia não provê a segurança por ideais fracos, outro Poder dilacerado. A camada com mais acesso da sociedade provê a segurança que lhes interessa, outro Poder dilacerado. A camada inferior arranca o que é dos outros como animais famintos, condições a que foram condenados, por um ou outro motivo, e que não foi dada importãncia, mas que poder estes têm?
Não quero que fique a impressão de uma visão deturpada das camadas sociais que interagem na cidade. A parte das expeculações sobre as fontes do acúmulo de capital dos mais ricos e do mais marxista que esta visão tenha dado impressão de ser (é impressão apenas), eu simplesmente intento direcionar responsabilidade de ação aos que realmente têm condições de solucionar o problema, por poderem enxergá-lo e manipulá-lo. . Não proponho uma divisão de renda igualitária, que implique necessariamente nas perdas dos que a tem concentrada. Proponho que já que interagimos de forma competitiva, que sejam dadas as condições minimas de sobrevivência e acesso a todos para evitar a disseminação do terror e que esta competição justifique a nossa capacidade de raciocínio.
Bertold Brecht escreveu a respeito da negação de Galileu: "Eu te digo, aquele que não conhece a verdade é simplesmente um ignorante, mas aquele que a conhece e diz que é mentira, este é um criminoso". Isto não isenta os mais pobres da culpa pelos seus atos, torna-nos todos criminosos, infratores da ética e da cidadania que nós mesmos criamos.

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