terça-feira, 8 de setembro de 2009

Macro-organismo


Vivi em março de 2007 uma situação que marcou a minha vida. Não por ser negativa, nem por ser positiva, nem por ser neutra, nem por nada.

O sono me limita descrições mais detalhistas, o fato é que eu, nerd, esperava "anciosamente" o momento de fazer uma prova de Relatividade e Física Quântica, para qual eu havia estudado e estava um pouco preparadado, e muito nervoso. Começa uma chuva que se tem noção de ser grande, rápida e única, e por esta última qualidade dou Graças a Deus!

Depois de uns 30 minutos de xoxóxoxóxoxó, truuuumm, tééééit, a água começou a invadir o páteo da Universidade, num marrom marrom, marrom mesmo, da cor marrom. em 3 minutos já subia as minhas canelas que já tinham sido abrigadas numa mesa, prevendo a inundação. Os que, diferente de mim, decidiram permanecer na mesa, tiveram de fazer dela uma balsa, e lá ficaram até a água baixar (às 3h da manhã). Eu e uns colegas mais espertos que eu inclusive, subimos sentido aos laboratórios, onde lavamos os pés. Era engraçado ver-me com os pés no tanque onde eram descartados tantas soluções que contribuiam para a evuloção científica da Universidade. Eu, ao lavar meus pés, me sentia como se o fizesse em água benta.

Entre carros, casas, computadores e outras coisas destruídas, consegui uma carona duma amiga duma amiga dum amigo meu, que me levou a estação de trem, que ficava do outro lado da enchente e ela parecia um shopping, apesar de ser 23h45min. Uma multidão cansada como eu, mas falante e conformada, aguardava o trem que reduzira 1/6 do seu percurso por causa da chuva. Por volta de 1h da manhã estava eu de volta ao meu nunca tão desejado lar.

A cidade parou, e só tragédias a faz parar. Não é que não precise nunca parar, é claro que sim, mas não pode. Não pode fazer um reparo, que para tudo, vira um transtorno, pessoas morrem, ferem-se e tudo em volta funciona mal. Para não parar, os bueiros continuam tapados, o povo ainda joga lixo na rua, não há escoamento e no fim enche e pára. A chuva não escolhe o dia de chover, nem o quanto chove em um dia. Mas é ruim que sempre que "calha" de chover muitos cidadãos urbanos perdem seus lares, seus pertences ou sua vida. Obrigatoriamente, tem que parar, mas assim que é possível, com o mesmíssimo frenesi aceso nas mentes, ela volta, desviando-se da imagem do que foi o dia anterior, pondo de lado o problema, a metrópole descontrolada volta.

Hoje, as águas não foram de março, e isto não foi motivo para que não deixassem seu rastro de destruição pela avenida. O cheiro de merda ainda flui no ar, os carros continuam presos e encharcados, as moléstias ainda não deram sinal de existência, não se descansou o stress da possibilidade de ter que dormir ali, e daqui a pouco estaremos todos de volta: o médico plantonista, o operador de máquinas, o executivo, o professor... Todos metropolitanos inspirados ou inspiradores, causas ou consequências, todos vivendo e tornando vivo o espírito inquieto da cidade que não pára porque não pode, não pode porque não quer, não quer porque não deixam, não deixam porque não pode parar.

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