sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Canto a preguiça


Agora eu voltei correndo

para continuar com ela

o que jamais devia ter parado


Acordar, às vezes, é um trauma

que se sente nos cinco minutos

em que nem as pápebras, nem a boca

nem as pernas obedecem


Me arrasto maldizendo o trabalho

a sociedade capitalista

o relógio pontualíssimo

e o cínico que me desejou bom dia


Mas que bom é voltar à cama

e sentir nela as linhas do seu corpo

encaixadas como se fosse medida

e mesmo fria está lá, acolhedora

mesmo bamba, está firme


Que bom ter uma cama onde deitar

Minha cama, meu ninho


Minha cama não é especial

por ser só minha

tampouco por ser cama

é especial por ser minha cama

Por ser a única cuja existência

configura o meu conforto

que drena o meu pranto, meu suor

a minha saliva e meu sémen

que em qualquer circunstância esta ali

aberta a mim, esperando meu descanso

juntando seu acalanto

para me tornar um novo homem


Daqui uns anos, vai ser outra cama

igualmente minha, mas não somente

Vai ser finalmente o berço do céu

e da penumbra doce que embala o sono

dos gemidos loucos que embalam o amor


E esta de hoje, com tanta gratidão

pode ser queimada, destruída

doada, reutilizada

tanto faz...

nunca fora minha sozinha

Nada é meu hoje

a não ser a minha cama.

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