Agora eu voltei correndo
para continuar com ela
o que jamais devia ter parado
Acordar, às vezes, é um trauma
que se sente nos cinco minutos
em que nem as pápebras, nem a boca
nem as pernas obedecem
Me arrasto maldizendo o trabalho
a sociedade capitalista
o relógio pontualíssimo
e o cínico que me desejou bom dia
Mas que bom é voltar à cama
e sentir nela as linhas do seu corpo
encaixadas como se fosse medida
e mesmo fria está lá, acolhedora
mesmo bamba, está firme
Que bom ter uma cama onde deitar
Minha cama, meu ninho
Minha cama não é especial
por ser só minha
tampouco por ser cama
é especial por ser minha cama
Por ser a única cuja existência
configura o meu conforto
que drena o meu pranto, meu suor
a minha saliva e meu sémen
que em qualquer circunstância esta ali
aberta a mim, esperando meu descanso
juntando seu acalanto
para me tornar um novo homem
Daqui uns anos, vai ser outra cama
igualmente minha, mas não somente
Vai ser finalmente o berço do céu
e da penumbra doce que embala o sono
dos gemidos loucos que embalam o amor
E esta de hoje, com tanta gratidão
pode ser queimada, destruída
doada, reutilizada
tanto faz...
nunca fora minha sozinha
Nada é meu hoje
a não ser a minha cama.
Nenhum comentário:
Postar um comentário