terça-feira, 25 de agosto de 2009

Nicho Urbano parte 1


Ontem precisei ir ao médico ortopedista para tratar de um probleminha na coluna que vem me incomodando há alguns anos. Ao tomar o ônibus, notei que estava tranquilo para escolher o lugar onde sentar e escolhi um do lado direito de quem entra próximo a janela, já que estava frio e chovendo, propiciando o contágio de doenças infecciosas como a gripe "suína". Próximo à janela, eu poderia me assegurar da circulação do ar, pelo menos. Não sentei logo abaixo, pois o banco tinha algumas gotas de chuva, mas uma mulher com os cabelos esticados o fez, e naturalmente, para evitar a rebelião que poderia ocorrer na sua cabeça caso algumas míseras gotículas de chuva entrassem em contato com sua crina comportada com alguns produtos destinados à cadáveres, que era o que de fato eles pareciam, ela fechou o vidro da janela. Praguejei: "Há de lhe cair um balde de formol na testa para que fique calva!". Seguidamente pedi a Deus o perdão. Meus cabelos não são lisos, e não sei como serão os da filha que um dia eu venha a ter. Só me certifiquei de esclarecer a Deus que ela, quando e se existisse, não poria formol nos cabelos e seria preventiva às doenças trazidas pela multidão.
Após algumas paradas nos pontos de ônibus a chuva apertou, fato que só era notável pelo ruído, já que com o vapor exalado dos pulmões dos passageiros instalado nos vidros, por ausência de saída, era impossível assistir qualquer paisagem externa àqueles sofríveis metros quadrados, a cada ponto mais entupidos de gente. Quando chegamos no ponto central, o ônibus ficou por cerca de 10 minutos, só recebendo novos passageiros. Eu tratei de mudar de lugar, fui para uma poltrona abaixo da janela para poder respirar. Ao abrí-la, me veio algo como um pequeno balde de água na metade esquerda do corpo, que escorreu pela janela. Era como se me apontassem o dedo e dissessem: "Ora, mas não era isto que queria". Não aprendi a lição. Mantive o vidro aberto de teimoso que sou, e de precavido também.
Alguém se sentou ao meu lado por alguns segundos quando teve de ceder lugar a uma senhora de idade avançada que ali terminou sentada. Lía-se (pelo menos por meus olhos empáticos) no semblante do rapaz cansado: "maldita civilidade! Por que esses velhos escolhem a hora de pico para passear de ônibus?". Porque não escolhem quando vão sentir dor, quando vai subir sua pressão, quando seus filhos, não mais necessitados dos seus favores, os abandonam ao cuidado do governo. O carro foi cheio, até o ponto em que tive que descer. Me julguei gênio por ter optado pelo lugar próximo a porta. Quando deixei meu acento, o rapaz cansado não sentou ao lado da senhora a quem havia dado lugar. Deixou lá sentar uma outra com uma criança de colo. Provavelmente, a empatia do rapaz era menos egoísta que a minha, já conhecia o ambiente a as pessoas igualmente cansadas que existiam ali.

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