sábado, 22 de agosto de 2009

O Sol




Abri meu caderno de idéias e lá continha estas palavras: O Sol. Tenho certeza que algo eu tinha em mente para escrever sobre o sol, e que era algo que me levou a alguma conclusão a respeito de algum assunto, transformando-me. No entanto, está perdida. Por mais que eu vasculhe a memória, só encontro interrogações. Muitas de minhas idéias, que são tidas antes de adormecer, são perdidas, apesar de serem importantes. Por isto, resolvi escrever o assunto que norteia este raciocínio num caderno, mas percebi que não é o bastante anotá-lo. Percebi que a idéia não fora desenvolvida a ponto de fixar na minha mente, era uma idéia tosca.


Por que será que me punha a pensar no céu antes de finalmente adormecer, depois de um dia longo e cansativo, no qual a noite tranquila e escura era o meu maior desejo. Quando a tinha, tranquila e escura, eu quereria uma manhã ensolarada, ou não necessariamente, mas com um novo sol. Mas o sol nunca é novo. É sempre o mesmo por mais que os poetas mais otimistas tentem negar. É aquele que sempre exerceu a mesma força que mantinha oito ou nove astros ao seu redor, que se podem ver. É o mesmo que da vida às flores, e dá suas cores. É sempre o mesmo. É o mesmo que contrasta as belezas da diversidade da terra. É o mesmo que dá a ela vida, que aquece seus mares e seus habitantes. É o mesmo que dá sentido aos olhos, que brilha hoje, amanhã e depois. Nunca haverá outro sol. Isto era a razão para eu escrever sobre ele?


Por que o sol, a mim, como a tantos poetas, interessava pareado com a idéia de renovação? Por que a sua imagem, que jamais fomos capazes de ver nitidamente, nos traz tantas perspectivas? O dia que é novo, porque o dia é do tempo, e o tempo é sempre novo. O sol é então, todos os dias, o mensageiro do tempo novo, mas por quê? A lua, que mesmo de dia, anuncia que os tempos são outros, não recebe, salvo dos corações apaixonados, metade do mérito do sol. A lua, que está sempre nos rodeando, não tem dos homens o desejo que seja nova, sendo que sabe sê-lo, como tem o sol, que é sempre o mesmo, incidindo novos raios sobre nossas vidas.


Deve ser porque mesmo quem não percebe, mesmo quem nunca percebeu a luz, deve ao sol a capacidade de perceber o resto das coisas. Mas seria uma razão tão comprovada a minha motivação para reflitir sobre o sol? O sol não teria sido importante se eu levasse em conta a sua essecialidade às nossas vidas. Precisamos do sol, isto é verdade, e a verdade não me interessa. O que me interessa é a percepção desta verdade, mesmo que ela por desventura fosse mentira. Crescemos e nos desenvolvemos como ser aprendendo a verdade, mas é pelos caminhos da mentida, descoberta, aceita ou descarada, que interagimos com o mundo e destas interações, nos modificamos para crescer e desenvolver nossas verdades.


Mas o sol, que agora, em texto, em hora e em espaço, me parece tão distante, deve ter me posto a sorrir, e a implorar a Deus que viesse novamente ter conosco sua vida, renovação e resplandescência. O sol, por qualquer motivo, teria momentaneamente me inspirado, e isto me fez anotar sua imensidão numa folha de papel, que não me recordo mais.



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