sábado, 22 de agosto de 2009

O Hélio e a Bexiga


A caminhar pela calçada
eu noto algo diferente
algo que me intrigou
pela leveza e pela penumbra
E antes que a penumbra no céu
Possa assustar os que conhecem a luz
esclerecido fica que
a penumpra é pontual
tão pequena na imensidão do céu
tão sem importância
o fato de ser penumbra

Guio os meus passos
por outra parte da mente
que desconheço, mas que conhece bem
o caminho que devo seguir
O que sou capaz de dizer que penso
concentrava-se na graça da borracha
Poderia ser um pneu
e proporcionar ao homem
atrito e segurança
Poderia ser um elástico
para manter junto
o que se tem separado
poderia vedar um cano
poupando a água
e o esforço dos homens
Poderia ser uma bola
para entreter a gente
grande ou pequena

Mas era isso mesmo
a que fora concebida
Para entreter e puramente
não havia o que se fazer com ela
os mais extravagantes
vislumbravam uma viagem pelo céu
que quase sempre não dava certo
Não era balão
Era bexiga
Bela, burlando a gravidade
por ser leve
por ser livre
meu olhos se encantavam
com sua transparência
Que ainda deixava-me ver o sol
Não havia o que ela me impedisse
Não havia motivos para isto
Nem sequer para eu
concentrar-me naquilo
Mas era o que eu fazia

Ela não machucou ninguém
ali, pairando no ar
talvez tivesse machucado
a criança doente que lhe era dona
Mas uns minutos a contemplar
seus movimentos errantes
já a faziam se curar com um sorriso

Já fora como eu
já estivera presa numa linha
tão fraca e tão sem razão
que só sonhava o momento
de poder pairar no céu
sem guia, sem sentido
como a sua existência
Hoje a linha é presa a ela
inverteram-se os papéis
a bexiga, ao carregar a linha,
humildimente a pedôa
por tê-la prendido ao chão

Ia cada vez mais para longe
talvez chegasse a estratosfera
talvez caísse por alí adiante
Ou conhecesse os boeings mais luxuosos
os pássaros mais imponentes
as gotas mais pesadas
os ventos mais ferozes
Outras bexigas como ela
ou caísse por ali adiante
Poderia cruzar os mares
testemunhar o amor das baleias
a migração das tartarugas
as sujeiras dos homens
Os raios poderiam atingí-la
ou mesmo a fiação que sai do tranformador
a derrubaria ao chão
já não mais transparente
já não mais leve
já não mais livre
já incomodando a mim
já sendo lixo

Sua morte é como a perda de um membro
nos torna incapazes
tristes e mesquinhos
traz malefícios a natureza
mas pode ser reavida
em qualquer das esquinas da mente

Estupidamente, olhei em frente
Presenciar a sua morte me doiria
e passo a passo
cheguei ao lugar de onde eu fugia

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